terça-feira, junho 20, 2017

(DL) O romantismo para além de Goethe

Menos celebrado do que Goethe, o seu contemporâneo Benjamin Constant é autor de um romance igualmente elucidativo quanto às características fundamentais do romantismo: «Adolphe», publicado em 1816.
Tendo-se tratado de obra surgida de longa gestação (dez anos), explora as subtilezas da análise psicológica, permitindo ao autor, através  do seu alter ego, explorar retroativamente os tempestuosos amores com Charlotte de Hardenberg, Madame de Stäel e Anne Lindsay.
O editor do livro apresenta-o como o relato de um tal Adolphe, jovem tímido e solitário, com quem se encontrara e que lhe confidenciara as vicissitudes justificativas da sua tristeza.
Desagradado com o progenitor, Adolphe saíra da sua Gottingen natal e instalara-se na corte de outra cidade alemã. A reputação de frívolo não o impede de seduzir uma mulher dez anos mais velha, Ellenore, que por ele ganha paixão incurável.
Tão só conquistada, Adolphe desinteressa-se dos seus favores, mas ela não se dá por vencida: “Não eram os arrependimentos do amor. Era um sentimento mais sombrio e triste: o amor identifica-se tanto com o objeto amado, que até no desespero conserva algum encanto.”
Para recuperar a liberdade, Adolphe regressa a Gottingen, mas ela segue-o até ali disposta a de tudo abdicar por ele: os filhos, a fortuna, a reputação.
Comovido com essa entrega, e para escapar à pressão paterna, que lhe exige o rompimento, Adolphe volta a partir, instalando-se com ela noutra cidade boémia, Caden. Mas, nem aí se consegue livrar dos ditames paternos, chegados através de um barão, amigo da família.
Seja por vontade própria, seja por tais imposições, Adolphe abandona Ellenore, que morre de desgosto. Não tardará a descobrir-lhe uma carta póstuma em que prevê que, sem ela, a vida se lhe acinzentará.
No epílogo o editor censura o protagonista em modo edificante: “O exemplo de Adolphe não será menos instrutivo se vos acrescentar que, depois de ter sacrificado o ser que o amava, não ficou menos inquieto, menos agitado, menos descontente.  Que não usufruiu da liberdade conquistada à custa de tantas dores e lágrimas. E que, justificando a censura, também se tornou digno de piedade.”.
Encontramos, pois, o tema principal da obra de Constant: a incapacidade do ser humano para ser feliz.

Sem comentários: