sábado, junho 10, 2017

(DIM) «Little Odessa» de James Gray (1994)

Passaram-se muitos anos desde que Joshua Shapira tivera de fugir de Brighton Beach, um bairro em Brooklyn, onde se concentra uma boa parte da comunidade judia de origem russa e ucraniana. O motivo para essa ausência residira no ter morto o filho do «padrinho» local. O problema é ter-se convertido num assassino a soldo e o contrato requerer que ali voltasse.
Não bastando o ódio, que o mafioso lhe dedica, também o próprio pai o excomungou considerando-o companhia a evitar para o filho mais novo. Mas, agora, a notícia do tumor cerebral, que lhe anda a matar lentamente a mãe, incita-o a reaproximar-se dos seus. O problema é que essa intenção vai estilhaçar a célula familiar, mergulhada pela dor, pela renúncia.
James Gray tinha apenas 25 anos, quando realizou «Little Odessa», ficando logo definidos os temas recorrentes da sua obra ulterior: alguém, que quer regressar à família de que se afastou, e já não se sente nela enquadrado. A violência como presença constante de um microcosmos, que não dispensa essa forma de exercer o poder. A empatia com um irmão a quem é imposta trincheira contrária. Um amor que está condenado à tragédia. A inevitável solidão de quem se iludia com a possibilidade de pertença a um universo em que não volta a ter lugar.
Tim Roth teve aqui um dos seus papéis mais emblemáticos, mas também por aqui andam Vanessa Redgrave ou Maximilien Schell.
O interesse maior reside nas opções estéticas do realizador, que confessou ter-se inspirado nos quadros de Caravaggio, Rembrandt ou Georges de la Tour para impor uma fotografia feita de nuances em claro-escuro sobre os rostos dos personagens, assim revelados no seu mais íntimo sentir, mas igualmente asfixiados pelas emoções recalcadas.
Importa atentar igualmente como as paisagens exteriores, cobertas de neve, refletem a desolação interior de quem convive com o exílio, a solidão, a perda...


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