quarta-feira, junho 28, 2017

(DL) Andrómaca, uma personagem de Racine

Em 17 de novembro comemorar-se-ão os 350 anos passados sobre a estreia de «Andrómaca», uma das mais interessantes tragédias de Racine, que recorreu a um dos temas mitológicos já trabalhados na Antiguidade por Eurípides, Séneca ou Vergílio.
No início da peça a guerra de Troia já teve o seu desiderato com a morte de Heitor. Na distribuição dos despojos, caberá a Pirro, rei de Epiro, ficar com a bela viúva do herói troiano - a personagem que dá título à peça -, e o seu filho Astíanax.
Não tardaremos a descobrir que a estória evoluirá de acordo com a regra de A amar B, que ama C, que ama D, resultando o drama desse desencontro de paixões. É que Pirro estava para casar com Hermíone, filha de Menelau, mas vai adiando sucessivamente a data da boda, porque ficou enamorado pela sua cativa.
Aparece, então, em cena Orestes, enviado pelos gregos para que lhes entreguem Astianax, porque o ódio à raça de Heitor tornara-se tão violento, que só a morte do rebento lhes saciará o desejo de vingança. É essa chantagem que Pirro decide utilizar para convencer Andrómaca a com ele casar: aceda ela a esquecer o defunto herói e a recebê-lo no seu leito e poupar-lhe-á o filho a tão triste sorte.
Bem tenta ela comovê-lo com a sua desdita, que Pirro mantém-se inflexível na decisão. Andrómaca decide então acatar-lhe a vontade, embora no íntimo planeie matar-se na noite de núpcias.
Intromete-se então Hermíone, que sente como uma humilhação o ver-se preterida pela escrava. E, porque sabe Orestes interessada nela, convence-o a matar Pirro, sob a promessa de depois com ele casar.
O filho de Agamémnon satisfaz-lhe a vontade, mas logo descobre o horror, que suscita na amada: aterrorizada com o crime, que lhe encomendara, Hermíone precipita-se para o corpo de Pirro, abraça-o em desespero e logo ali se mata.
No século XVII, em contraponto com as contemporâneas comédias de Molière, este modelo teatral, que acabava com quase todos os protagonistas mortos, conhecia grande sucesso na corte francesa, tendo em conta o seu papel moralizador. No caso desta peça está presente a ternura maternal e a fidelidade conjugal, mas também a   contradição entre o medo e a esperança numa exacerbada manifestação das paixões. Como personagem em torno da qual todos se agitam, Andrómaca consegue ser o modelo de sensatez face ao turbilhão de sentimentos, que se refletem à sua volta.


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