quinta-feira, julho 05, 2018

(S) Paco de Lucia, «Entre dos aguas»


Paco de Lucia nasceu muito perto do local onde o Mediterrâneo e o Atlântico se encontram, igualmente espaço de comunicação (ou de separação?) entre continentes. É que Tânger fica a apenas catorze quilómetros em voo de pássaro por cima do Estreito até pousar em terras africanas. Nas aldeias de casas brancas chegam areias finas trazidas por ventos impregnados de influências árabes e judias.  Não admira, pois, que o murciano tenha sempre sentido uma atração pelo mar, razão para, em 1973, ter criado «Entre dos aguas» com que ganhou reconhecimento internacional pela forma como inovava o flamengo.
Mas o mar estava, igualmente, presente em Algeciras, onde viveu em criança e  em cuja marginal passeava de mão dada à mãe, uma portuguesa de Castro Marim.  Nesses anos 50 ouvia-se flamenco um pouco por todo o lado, o que estimulou o petiz Paco a aprender-lhe os primeiros acordes com António, seu pai. O som era diferente do da restante Andaluzia, particularmente de Sevilha, que tendia a impor um cânone, que ele viria a contestar: o flamenco era uma cultura em permanente transformação, sendo estulta a obrigatoriedade de cingir-se aos quatro acordes mais comuns.
Em 1959, quando, com doze anos, ganha um importante prémio no festival internacional ai organizado, já anunciava que vinha para tudo mudar. E assim sempre sucedeu até morrer, inesperadamente, em 2014.

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