sábado, julho 28, 2018

(DIM) «China: O Império do Tempo», documentário de Cédric Condon (2017)


No século XVII os missionários jesuítas ambicionaram evangelizar a China. As tentativas ensaiadas a partir de Macau, onde funcionava o entreposto português, tinham todas fracassado. Para concretizarem o objetivo a nova estratégia passou por facultarem aos sábios chineses os conhecimentos astronómicos já consolidados no ocidente, crentes de assim os convencerem da sua superioridade. Procuravam vencer a desconfiança dos anfitriões, indo-lhes ao encontro das crenças mais profundas, já que a política imperial era definida em grande parte pelo comportamento dos objetos celestes.
Matteo Ricci foi o primeiro desses jesuítas a dirigirem-se à China com intenção proselitista. Estava-se em 1601 e, ao deparar-se com o estado da astronomia chinesa, os seus calendários e instrumentos, sentiu a vantagem de ter estudado geometria e álgebra para compreender o ascendente que conseguiria se obtivesse resultados mais concludentes na previsão dos fenómenos celestes, sobretudo os eclipses do sol e da lua. A autoridade imperial dependia dessa melhor capacidade de medir o tempo.
Ao partilhar os seus próprios conhecimentos científicos, Ricci ganha influência junto dos funcionários do Gabinete de Astronomia da corte imperial. Recebido na Cidade Proibida e tornando-se conselheiro do Imperador espera convertê-lo ao catolicismo, de forma a, de seguida, estender essa atitude a todos os seus súbditos.
Ao morrer em 1610, Matteo Ricci é substituído por outro jesuíta, o alemão Johann Adam Schall von Bell, que prossegue a elaboração de um novo calendário ao estilo ocidental. Frustra-o o suicídio do imperador Chongzhen, o último dos que provinha da dinastia Ming. A China mergulha num tal caos, que só a invasão dos manchus, em 1644, volta a impor a ordem social.
Bell torna-se perceptor do primeiro imperador da nova dinastia Qing, o jovem Shunzhi. Mas as intrigas no seio da Cidade Proibida fazem-no cair em desgraça. Aprisionado sob a acusação de pretender a imposição da sua religião. é condenado á morte em 1665.
O documentário de Condon apoia-se em reconstituições históricas convincentes e no acesso a inúmeras instalações astronómicas chinesas, entre as quais o FAST, que, desde 2016, é o maior radiotelescópio do mundo. Aborda assim, esse curto período de pouco mais de meio-século, em que houve efetiva partilha de conhecimentos científicos entre o Ocidente e o império chinês.

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