segunda-feira, julho 30, 2018

(C) Uma história para embalar os inocentes


A falácia tem tido particular aceitação no norte da Europa, sobretudo desde os anos noventa: muitos crédulos denunciam os rastos dos aviões no céu como consequência da disseminação de produtos químicos na atmosfera com objetivos mais do que insidiosos. Segundo eles algumas agências governamentais estariam por trás do fenómeno e teriam por objetivos tornar os cidadãos mais dóceis, combater o aquecimento global ou difundir doenças como o Alzheimer.
O tema tornou-se farto pasto para os paladinos das teorias conspirativas. Por exemplo em 2009, numa entrevista televisiva, o cantor Prince confessava sentir mudanças de comportamento depois da passagem de aviões responsáveis por tais rastos no céu. Na realidade estes são nuvens artificiais surgidas no céu por ação  dos aviões, que imitam o que connosco sucede quando expiramos ar quente e húmido dos pulmões.
Os gases residuais resultantes da combustão inerente ao funcionamento do motor do aparelho inclui partículas e vapor de água. É da mistura entre o ar quente e húmido saído da turbina com o que está seco a grande altitude, que provoca a condensação do vapor de água, sucessivamente liquidificando-se e gerando cubos de gelo.
Os rastos em causa formam-se a altitudes entre os 10 e os 12 quilómetros, sendo mais nítidos consoante o ar esteja ali mais húmido ou mais seco. Nada têm a ver com a geoengenharia, técnica que consiste em injetar aerossóis e outras partículas  na estratosfera para influenciar a meteorologia. Há ainda a considerar que o tráfico aéreo está a aumentar 3 a 5% ao ano tornando mais frequentes as hipóteses de ver repetido esse fenómeno dado o crescente número de aviões a sobrevoar-nos as cabeças.
Significará esta clarificação, que os rastos deixados pelos aviões são inofensivos? Não se pode garanti-lo, porque suscitam pelo menos dois efeitos contraditórios: por um lado refletem a radiação solar reduzindo a sua incidência na superfície do planeta. Mas, por outro lado, criam um efeito de serra, impedindo o planeta de arrefecer. Da  conjugação de ambos os efeitos prepondera o do aquecimento do planeta.
Nesta altura a atividade aeronáutica é responsável em 3% pelo aquecimento climático não se podendo ignorar tal impacto em função dos benefícios por ela proporcionados.

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