sábado, julho 14, 2018

(DIM) «Altamira» de Hugh Hudson (2016)


Em 1878 um latifundiário espanhol particularmente dado às coisas da ciência, Marcelino Sanz de Sautuola, viu a filha de oito anos descobrir as pinturas rupestres numa gruta situada na sua propriedade e em cujo interior ainda não se aventurara. Há um par de anos os seus descendentes - a família Botin, que é uma das ricas do país vizinho - quis homenageá-lo não olhando a meios para que a intenção fosse cumprida com sucesso. Para tal foram buscar o veterano Hugh Hudson e deram-lhe como protagonista da história o mais internacional dos atores espanhóis - Antonio Banderas.
O resultado não é famoso do ponto de vista cinematográfico, pois se Hudson nunca se revelou mais do que esforçado artesão, a idade não lhe deu o talento antes comprovadamente ausente. Mas o filme tem três aspetos, que recomendam a visão se nos decidirmos a gastar hora e meia com uma proposta a que não imponhamos grandes padrões de exigência: por um lado ficamos a conhecer as circunstâncias e quem esteve envolvido na descoberta de um dos mais importantes legados da arte paleolítica datados de há 35 mil anos; depois há a denúncia da atitude sempre cega da Igreja, disposta a mover todas as influências e a abandonar quaisquer escrúpulos para manter credíveis os dogmas em que ela própria já não acredita; e, a terminar, a reação invejosa e incompetente de certos cientistas, que contrariam os próprios valores, quando está em causa a possibilidade de se afastarem da ribalta para darem o centro do palco a quem julgam aquém das suas competências. Adotar a racionalidade dos métodos científicos como forma de olhar para os resultados das suas experiências não torna menos emotivos no pior sentido os que com eles se ocupam.
Explica-se assim que Marcelino de Sautuola tenha morrido amargurado doze anos depois da descoberta da gruta, que adivinhara capaz de pôr em causa muito do que se julgava até então saber sobre a vida dos homens pré-históricos. Ostracizado pelos vizinhos seria a título póstumo, que veria reposta a credibilidade injustamente perdida.

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