domingo, julho 15, 2018

(DL) Os preconceitos que Hemingway e Capa tiveram de enfrentar quando quiseram visitar a URSS


Ainda mal tinha acabado a Segunda Guerra Mundial e já a Casa Branca andava ansiosa por começar um novo conflito, desta vez contra os soviéticos, sobre quem pretendia aproveitar a momentânea superioridade garantida pela bomba nuclear. Pudesse arranjar um argumento consistente para que prosseguisse o esforço militar, que dera fôlego à sua economia com pujantes indústrias a garantirem muitos milhares de postos de trabalho, e poria aviões e tanques a avançarem para um país exaurido, onde o esforço da reconstrução se adivinhava gigantesco. Daí estar a iniciar-se em força a atividade das Comissões incumbidas de identificar e ostracizar eventuais simpatizantes da causa comunista não só em Hollywood, mas em todo o setor público da economia e da administração norte-americana.
Quando John Steinbeck e Robert Capa engendraram o projeto de irem visitar a União Soviética e de lá trazerem um relato tão honesto e objetivo quanto possível sobre como os antigos aliados estavam a recuperar dos danos humanos e materiais causados pela guerra, sentiram o clima hostil dos compatriotas relativamente aos que pareciam complacentes, senão mesmo coniventes com o «perigo vermelho». Por isso uns não hesitavam em suspeitá-los de terem sido comprados por Estaline, enquanto outros apostavam na possibilidade de se verem expeditamente torturados e mortos logo à chegada a Moscovo.
Ao contestarem essas reações, Steinbeck e Capa usavam os argumentos da maiêutica socrática para confundir os interlocutores com ironia, desmascarando-lhes os preconceitos. Confirmando o que pressentiam, os russos com que confraternizariam nas semanas seguintes não eram muito diferentes dos que tinham visto acometidos de sintomas agudos de «moscovite». Com a diferença de ser genuína a preocupação quanto a ser garantida a paz, porque estando tão próximos os efeitos da guerra, não quereriam voltar a revivê-los a pretexto de uma qualquer guerra fria.

Sem comentários: