quarta-feira, julho 11, 2018

(DL) Os efeitos do fanatismo religioso na destruição do legado do mundo clássico


Publicado recentemente entre nós, «A Chegada das Trevas» de Catherine Nixey, é um livro particularmente educativo por demonstrar quão nocivo foi o papel do catolicismo e da sua Igreja na destruição da cultura sofisticada criada ao longo de muitos séculos nas civilizações grega e romana. Se o período medieval correspondeu a uma Idade das Trevas na evolução da Humanidade foi enorme a responsabilidade da Igreja Católica nesse impasse. O que teria sucedido se a espécie humana tivesse continuado a prosseguir no desenvolvimento do conhecimento e do pensamento se ele não viesse a ser cerceado pelos criadores dos dogmas, dos indexes e das excomungações?
Imitando o Daesh ou a Al Qaeda na intolerância com que olhavam para as demais religiões, também replicaram esses tardios imitadores na destruição de estátuas e outros monumentos por eles tidos como sacrílegos ou hereges. E não só: para além do extermínio dos deuses antigos, da destruição de outros altares que não os seus, ou da demolição de templos, os católicos dos primeiros séculos da nossa era prenunciaram os atrozes crimes da Inquisição com o assassinato de sacerdotes de outros credos. E os auto-de-fé relativamente a bibliotecas inteiras onde o seu Deus não era louvaminhado, nem sequer reconhecido, foram crimes indesculpáveis, que não têm qualquer perdão.
Que diferença em relação à tolerância com que foram tratados por quantos depois se esforçaram de apagar da História: ao contrário do que propagandearam, os cristãos mereceram do Império romano uma condescendência, que aproveitaram para desenvolverem um proselitismo, que lhes daria o ensejo de se considerarem os únicos com direito de aprovar aquilo que os outros deveriam acreditar.
Apesar de haver um papa aparentemente simpático não há que ter contemplações com um culto absolutamente totalitário. Se entre nós andam relativamente contidos nas suas posições é por se saberem isolados, descredibilizados junto de quem se habituou a ver neles um travão sempre, que estão em causa as evoluções civilizacionais. Mas recuperem algum poder, como está a acontecer na Polónia, e é ver os bispos a exigir do poder político uma reversão do que terá sido em tempos uma legislação progressista sobre a interrupção voluntária de gravidez.
Daí faça todo o sentido o que Carlos Esperança escreveu, dias atrás, nas redes sociais: “O laicismo é fundamental para combater a vocação totalitária das crenças radicais.”

Sem comentários: