segunda-feira, julho 09, 2018

(DL) As afinidades eletivas entre Claude Lanzmann e Simone de Beauvoir


Aproveitando o pretexto ditado pelo desaparecimento de Claude Lanzmann na semana transata, uma investigadora da Universidade de Chicago, Manon Garcia, publicou no «Libération» um texto sobre a assolapada relação amorosa, que o unira a Simone de Beauvoir, e se converteria em duradoura amizade até à morte da autora de «O Segundo Sexo» em 1986.
Lanzmann conheceu Simone na sede da revista «Temps Modernes», que Sartre dirigia e para cujas reuniões do comité de redação convidara o jovem repórter, então com 27 anos, quando ele acabara de publicar no «Le Monde» um conjunto de reportagens sobre a Alemanha de Leste. O filósofo rendera-se então ao talento do jovem jornalista.
Apesar de dezassete anos mais velha, Simone ficou, imediatamente, enamorada dele por lhe criar a sensação de reencontro com algo da perdida juventude. Entre 1952 e 1959, o casal vive uma paixão intensa, quer carnal, quer intelectual. Os grandes temas de então, e os textos que sobre eles escrevem, são escalpelizados entre fogosas partilhas do prazer dos sentidos.
Amiúde viajam a dois, outras vezes também levam Sartre, com quem se deixam fotografar na imagem desta página, colhida junto á Esfinge de Gizé. Se a guerra deixara Simone deprimida, Lanzmann devolve-lhe o gosto por viver, voltando a acreditar na felicidade absoluta.
A militância política de Lanzmann torna-se determinante na aproximação que Sartre e Beauvoir fazem ao Partido Comunista francês e ao combate ativo contra a guerra da Argélia, sobre a qual publicam  um elucidativo dossier sobre a tortura na «Temps Modernes».
Em 1959 a paixão esmoreceu, mas nem por isso Lanzmann e Beauvoir se distanciam: se se entusiasmaram um pelo outro como amantes, não se privam de manter a mesma atração como amigos sinceros. Jantam duas vezes por semana e viajam juntos regularmente. Partilham, igualmente, o trabalho na revista da qual Lanzmann se tornará diretor, quando Simone morre. Não sem ela ainda ter tempo para assistir ao longo documentário dele sobre os campos da morte da Alemanha nazi («Shoah»), relativamente ao qual escreve um dos seus mais belos textos.

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