domingo, julho 29, 2018

(DIM) Bons filmes ao Luar


O Cinema ao Luar promovido pela Associação Gandaia da Costa de Caparica, que vem projetando filmes ao ar livre nas noites de sexta-feiras e de sábado (assim será até ao fim do mês de agosto) tem proposto expressões muito distintas de entretenimento cinéfilo, mesclando obras aligeiradas com outras de mais exigente feitura.
Nas últimas duas semanas os títulos mais conotados com o cinema de ação foram «Mr. And Mrs. Smith», com o casal Brad Pitt e Angelina Jolie então em vias de amancebarem-se, e «Bandidas», um western com Penelope Cruz e Salma Hayek.
Datado de 2005, o filme de Doug Liman tem ampla percentagem de cenas inverosímeis de Pitt e Jolie a despacharem inimigos, confirmando a aposta num tipo de espetadores mais jovens, com a cabeça formatada pelos jogos de vídeo, mas se quisermos olhar para a história com alguma argúcia está lá a questão da mentira no espaço conjugal ou de como o trabalho pode ganhar maior relevância do que os afetos.
Criado por essa mesma altura o western com as duas atrizes latinas também usa e abusa da artilharia pesada para dar substância a uma luta, que começa por assumir conotações anti-imperialistas (os bancos norte-americanos a abocanharem o sistema bancário mexicano!), mas conclui-se com o propósito delinquente do vilão de serviço, que acaba devidamente sancionado. Além das duas protagonistas há também espaço para revermos um dos mais importantes dramaturgos norte-americanos, Sam Shepard, que assume o papel de preparar as moçoilas para a ação revolucionária.
Alternando com esses dois filmes tivemos os bem mais respeitáveis «West Side Story» de Robert Wise, Jerome Robbins e Leonard Bernstein e «O Baile» de Ettore Scola.
O filme que transpôs a história de Romeu e Julieta para as ruas de Nova Iorque, com os confrontos entre jovens brancos e porto-riquenhos, continua a dar razão a quem o considera um dos melhores filmes das respetivas vidas. Tive um chefe, o Luís Filipe, que confessava ser mesmo aquele a que dava a primazia fundamentado nas  conhecidas canções, nos excelentes movimentos coreográficos e na história simples, que se aguenta com coerência. Natalie Wood, mesmo dobrada nas cantorias, era impressiva no desempenho em ano que seria, igualmente, o do filme, que mais no-la tornariam inesquecível: «Esplendor na Relva» (apesar de realizado por um dos mais sinistros bufos de Hollywood, Elia Kazan).
Quanto à obra de Scola, quem a vê compara-o com a excelente adaptação em tempos assinada por Helder Costa para a Barraca que, por versar a música e a história portuguesa, ganha a preferência. Mas o filme, também ele construído a partir de uma prévia peça teatral, é engenhoso na forma como desfila os acontecimentos mais importantes do século XX francês mediante os sons e a forma como dançavam os pares episodicamente encontrados nas salas de baile.
Na mesma lógica a programação para o próximo fim-de-semana contará com «Solaris» de Steven Soderbergh na sexta-feira e «O Último Comboio de Gun Hill» na noite seguinte. Duas boas razões para comparecer pelas nove e quarenta e cinco da noite na Praça da Liberdade da Costa de Caparica.

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