sexta-feira, julho 13, 2018

(DIM) «Aconteceu no Oeste» de Sergio Leone, (1968)


Esta noite o Cineclube Gandaia apresenta um belíssimo filme de Sergio Leone. Ao ar livre, na Praça da Liberdade na Costa da Caparica, anuncia-se uma excelente noite de Cinema com maiúscula.
A história de «Aconteceu no Oeste» conta-se em poucas palavras: quando estava a preparar uma festa para a mulher, Bet McBain é assassinado juntamente com os três filhos. A viúva e herdeira das terras tem então de enfrentar Morton, que as ambiciona e para tal encomendara o crime.
Após o sucesso estrondoso de «O Bom, o Mau e o Vilão» Sergio Leone pretendia rodar outro tipo de filmes, que não westerns. Por isso começou a preparar a adaptação de «The Hoods» de Harry Grey, que só muito mais tarde, quando ultrapassou o problema dos direitos autorais, concretizaria com o título «Era uma Vez a América». No entretanto, vê-se forçado a aceitar a proposta de Paramount, que lhe paga principescamente para que rode ainda mais um western.
Com carta branca para desenvolver aquele que entende vir a ser o canto do cisne do género cinematográfico, que criara - o western spaghetti - Leone decidiu inovar, recorrendo para tal à colaboração dos ainda inexperientes Dario Argento e Bernardo Bertolucci. Em vez do tom épico dos filmes anteriores, Leone estava decidido a ilustrar com a maior simplicidade possível o conflito de terras e de vingança. Em vez dos protagonistas truculentos dos filmes anteriores, os de «Aconteceu no Oeste» seriam severos e misteriosos, com destaque para o veterano Henry Fonda, que nos habituáramos a ver em personagens simpáticos e aqui se revela um assassino cruel, ou para o intelectual Jason Robards, vestido de Cheyenne, um bandido com coração piegas.
Se em «Por um Punhado de Dólares» Leone já demonstrara o interesse pelo cinema japonês - uma versão oficiosa de «Yojimbo» de Akira Kurosawa - em «Aconteceu no Oeste» reitera-o através da lentidão da narrativa, da gestualidade dos personagens e do equilíbrio sonoro entre os ruídos e os silêncios. Vide a cena de abertura, quando três assassinos a soldo esperam por Charles Bronson na estação ferroviária. Ou quando a banda sonora reverbera o canto das cigarras, que subitamente se calam, quando se perspetiva a destruição da família McBain. Ou, mais interessante ainda quando Cheyenne vai ameaçar Claudia Cardinale a sua casa, e ela, após um longo confronto de olhares com o bandido, o invetiva com vigor. Pouco habituado a tal reação, Cheyenne apaixona-se assolapadamente.
O filme enche-se, igualmente, de referências laudatórias a John Ford e a alguns dos seus mais conhecidos filmes: «O Homem que matou Liberty Valence» ou «A Desaparecida». Mas elas tornam-se ainda mais óbvias, quando, entre os três assassinos está Woody Strode, um dos atores fetiche do realizador norte-americano, que lhe dera o principal papel de «O Sargento Negro».

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