terça-feira, julho 03, 2018

(DIM) «Atomic Homefront» de Rebecca Cammisa (2017)


Quem ainda tem alguma admiração pelo plutocrata Bill Gates bem pode ver este documentário, revelador da sua indesculpável responsabilidade na distopia em que vivem os habitantes de um condado de Saint-Louis, no Missouri, porque um aterro próximo das suas casas, está a provocar um tremendo desastre ambiental. Principal acionista da Republic, empresa, que gere essa lixeira, Gates escusou-se a qualquer entrevista para o filme de Rebecca Cammisa  ou para uma reunião com a Just Moms, organização comunitária, que luta pelos direitos de quantos veem a saúde afetada pela contaminação com os elementos radioativos ali depositados há muitas décadas.
Ao principio havia o Projeto Manhattan, que dotou os Estados Unidos com a sua primeira bomba nuclear. O enriquecimento do urânio importado do então Congo Belga foi concretizado numa enorme fábrica implantada no centro da cidade. Não suscita qualquer admiração, que muitos dos que aí trabalharam, tenham morrido de cancro. O pior é que os resíduos decorrentes dessa operação industrial foram colocados num aterro, onde numa zona muito próxima, acontece uma combustão lenta e subterrânea dos lixos urbanos ali depositados. A catástrofe anunciada - porque a distância entre esse fogo subterrâneo e os depósitos radioativos vai-se encurtando e já só distavam de duas centenas de metros há dois anos! - ocorrerá, quando tal distância se reduzir a zero catapultando em dimensão bastante superior as emissões de rádio, tório e outros compostos voláteis, que vêm causando danos irreparáveis na saúde das pessoas. Sobretudo nas que habitam junto á ribeira Coldwater para onde as águas das chuvas arrastaram grandes quantidades desses depósitos letais.
Para além da combatividade de um punhado de mulheres dispostas a exigirem a evacuação das casas e o realojamento em zonas mais seguras - quase todas elas não dispõem de meios próprios para resolverem por si próprias essa mudança de residência! - o documentário entrevista pessoas afetadas pela doença terminal, que as matou durante ou após a rodagem.
Impressiona, sobretudo, a facilidade com que os responsáveis pelo aterro ou as autoridades federais (pertencentes á Administração Obama) mentem descaradamente, sem qualquer pinga de vergonha na cara. Ou como se eximem sequer de ouvir quem lhes pretende solicitar ajuda para resolver um problema para o qual não contribuíram de outra forma, que não a de, numa altura em que o crime ambiental era um segredo bem guardado, decidirem adquirir casa num arrabalde aprazível da cidade.
Uma vez mais é a demonstração de como o capitalismo ao estilo norte-americano está organizado para satisfazer as exíguas clientelas dos dois partidos dominantes, sendo-lhe indiferente a má sorte dos seus mais carenciados cidadãos.

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