terça-feira, julho 24, 2018

(DIM) Carros, aviões, gasodutos e campos de refugiados

Às terças-feiras o horário nobre do canal franco-alemão ARTE é dedicado a temas de atualidade, propondo-se esta noite quatro documentários.
«Volkswagen, as desgraças de um gigante da indústria automóvel» foi rodado em 2016 por Achim Scheunert e Andreas Wimmer, quando o grande grupo automobilístico estava em plena tormenta devido á revelação do falseamento dos testes antipoluição nos seus motores de combustão. Mostrando as reações suscitadas pela participação da marca no Salão Internacional de Detroit  nesse mesmo ano, vai-se concluindo que, contrariamente, ao defendido de início, a fraude não resultara da ação de uma restrita equipa de engenheiros, mas de uma cultura há muito instituída pela direção do grupo.
Onze milhões de veículos estariam implicados  no caso e as consequências na queda abrupta do valor bolsista da empresa logo se fizeram sentir até pela pesada multa de 22 mil milhões de dólares aplicada pelas autoridades norte-americanas.
Graças a raros documentos de arquivo, os realizadores revelam a história sombria da Volkswagen, que Hitler sonhara transformar no automóvel do povo exportável para os quatro cantos do planeta.
O documentário seguinte, «A saga dos Douglas DC-3», realizado por Peter Bardehle e estreado agora, debruça-se sobre a história do primeiro avião  moderno pensado para o transporte de passageiros. Criado em 1936 na Califórnia, construíram-se 16 mil aparelhos até 1936, alguns dos quais ainda voam atualmente para as regiões polares ao serviço de diversas expedições científicas.
Na história dos DC-3 conta-se o envolvimento na logística do desembarque aliado  nas costas francesas e, depois, no abastecimento de Berlim durante o bloqueio soviético. Razão para merecer o culto de uns quantos entusiastas, que pagam fortunas para manterem em perfeito estado de utilização muitos dos remanescentes de tão duradoura existência. Uma empresa no Wisconsin é uma das principais especialistas nesse tipo de trabalho.
O terceiro documentário da noite ganha particular acuidade depois da recente acusação de Trump quanto à subserviência da Alemanha de Angela Merkel em relação ao gás natural fornecido pelos russos. «A guerra dos gasodutos» de Christian Schulz, datado de 2017, interroga se o Nord Stream 2, gasoduto em construção nas águas profundas do mar Báltico, servirá de via preferencial de exportação de tal fonte de energia a toda a Europa, que já importa da mesma origem um terço das suas necessidades. A questão pertinente é aferir se essa dependência energética ainda pode acentuar-se mais, expondo o continente a eventuais retaliações do Kremlin em caso de litígio político.
Com uma extensão de 1250 quilómetros a canalização em causa liga São Petersburgo à cidade alemã de Lubmin e poderá movimentar anualmente 110 mil milhões de metros cúbicos de gás natural  prejudicando as expetativas norte-americanas que ansiariam por abocanhar uma boa parte do negócio em causa. Daí que espicacem a Ucrânia para que se faça porta-voz dos seus interesses tanto mais que, com o NordStream 2 em ritmo de cruzeiro evaporam-se as receitas significativas, que o regime de Kiev aufere pela atual passagem do gás russo pelo seu território.
A concluir há mudança de área geográfica com «Zaatari - Sobreviver num campo de refugiados», assinado por Paschoal Samora em 2017, que retrata o quotidiano de um campo de refugiados na Jordânia, onde se acumulam oitenta mil foragidos da guerra na Síria. Como Mohammad, pintor de nomeada em Homs, que ilude o tédio usando os pincéis e as trinchas para decorar os contentores dos vizinhos.  Ou Moubarak, que percorre o campo com o seu carrinho de vendedor ambulante.  Ou Mader, que criou o seu próprio jardim.
São vidas suspensas, mas denotando notáveis capacidades de resiliência, enquanto não encontram novos rumos ou reencontram os antigos, que lhes devolvam a sensação de alguma normalidade.

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