sábado, julho 15, 2017

(DL) O encontro do jovem poeta com o exotismo tropical

Desconhecia que Charles Baudelaire tivesse vivido na Maurícia. E, no entanto, segundo alguns dos estudiosos da sua obra, a ilha terá sido o espaço de descoberta da embriaguez dos sentidos através dos odores e cores dos mercados e da arquitetura local.  Terá sido quase por acaso que o poeta ali desembarcou em 1841, quando  a escravatura acabara de ser abolida e Port Louis constituía escala importante na rota marítima do comércio das especiarias.
O futuro autor de «As Flores do Mal» tinha então vinte anos e a família decidira financiar-lhe uma viagem a Calcutá para que saísse da monotonia da vida de estudante.
Em princípio a ilha não figurava nas escalas previstas Da viagem, mas um ciclone ao largo do Cabo da Boa Esperança causara tais desgastes a bordo, que as reparações em terra firme tornaram-se inevitáveis.
Após longas semanas no alto mar o encontro com a paisagem local constituiu experiência determinante na vida do futuro escritor. Se as grandes extensões azuis já não lhe escondiam grandes segredos, constituindo-lhe uma  espécie de espelho, o exotismo tropical estimula-lhe sensações avassaladoras. O choque visual e olfativo é feito desse encontro com uma diferença tão abismal em relação a tudo quanto conhecera até então. As montanhas em volta, basálticas por causa dos vulcões ali escondidos, dão cor e consistência aos edifícios, em que paredes e pavimentos são construídas a partir desse recurso geológico.
Se é calorosamente recebido nessas casas, a quem os anfitriões continuam ainda hoje a apelidar de «seus castelos», Baudelaire replica nas ruas de Port Louis o hábito parisiense de tudo nelas atentar, recolhendo emoções caóticas, que cuidará de ir estruturando mentalmente  para utilização futura.
Nas cantinas descobre a gastronomia crioula confecionada com legumes e temperos a que não consegue ficar insensível, complementada pelos saborosos frutos legados por uma natureza generosa, que alimenta, perfuma, embeleza e até encontra soluções para curar as maleitas.
A descoberta mais excitante será, porém, a prodigalizada pelas mulheres negras ou mestiças com quem se deita e todas elas capazes de lhe alimentarem um erotismo depois replicado em versos ousados, que não pouco escândalo causam nos ambientes seletos onde, clandestinamente, sobressaltaram preconceitos.
Essa propensão será tão definitiva que, em Paris, Baudelaire tomará como duradoura amante uma mulher negra, Jeanne Duval, que lhe alimentará tantos outros poemas. Pode-se, pois, dizer que a ilha Maurícia exerceu uma influência incontornável na vida e obra do poeta.

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