domingo, julho 23, 2017

(DIM) Quem te viu e quem te vê

Não sou um grande entusiasta das reportagens da jornalista Stacey Dooley para a BBC. Além de optar por temas polémicos, que sabe aguçarem o gosto voyeurista dos espectadores, ela adota uma pose de falsa ingénua nas entrevistas aos vários intervenientes, não hesitando em simular comoção, quando sabe daí virem momentos fortes do ponto de vista televisivo.
Recentemente vi duas reportagens em que essas evidências saltaram à vista: numa delas mostrava-se o ambiente dos prostitutos transsexuais de Detroit, que se tornaram dramaticamente miseráveis com a decadência de uma cidade quase fantasma, outrora capital da produção automóvel norte-americana. Na outra optava por denunciar a pedofilia no Japão, onde apesar de legislação punitiva no sentido de proibir as relações sexuais entre crianças e adultos, se mantém fenómenos inexplicáveis como os dos bares JR ou as publicações de Cheku Ero.
Foi esta última reportagem a que causou mais celeuma com muitos dos criadores das revistas mangas a repudiarem a denúncia por ela incluída no programa sobre a representação, sob a forma de banda desenhada, desse tipo de fantasmas eróticos nos seus trabalhos gráficos.
É um facto que a pedofilia não pode nem deve ser aceite em nome de hábitos culturais há muito enraizados nas culturas específicas de certos povos. Nesse sentido os bares em que miúdas em idade escolar, e vestidas com os respetivos uniformes, servem de alternadeiras a homens com idades para serem seus país ou avós, merecem condenação mediática internacional. Tal como as revistas, que recorrem a modelos, mesmo que já com 18 anos, para simularem imagens eróticas em que parecem bem mais novas. Mas Stacey leva o mau gosto a entrevistar um tarado, que lhe faz uma demonstração prática da satisfação dos seus desejos libidinosos com uma boneca insuflável a aparentar uma dessas miúdas. Cenas dessas deixam de significar a denúncia de uma perversão para o escabroso exibicionismo de tais desvios patológicos.
Na assimilação das revistas de mangas a essa mesma campanha pode-se considerar que a sua perspetiva tem algum fundamento, mas dá a ideia de que, ao entrevistar um dos mais importantes criadores desse tipo de obras, a jornalista acossa-o com perguntas cada vez mais inconvenientes embora tivesse dado a ideia inicial de uma certa forma de assertividade para com o entrevistado. Como se fosse uma aranha letal, que estendeu a rede e se deleitou com o fatal enleamento da vítima na sua armadilha.
Quando se dava a BBC como exemplo de uma deontologia irrepreensível não se adivinhava que a nova geração dos seus jornalistas já estão dispostos a mandar ás malvas todas as regras conquanto consigam para si as audiências com que sejam promovidos a efémeras estrelas mediáticas.


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