quinta-feira, julho 27, 2017

(DL) Amos Oz rejeita o epíteto de pacifista

Uma tia de Amoz Oz costumava-lhe referir que não tinham sido os pacifistas a salvarem os judeus dos campos de concentração, mas os agressivos militares norte-americanos com os seus comportamentos de cowboys. O que o leva a negar para si mesmo essa condição com que é muitas vezes conotado, porque não entende a guerra como sendo o pior de todos os males possíveis, devendo ser evitada custe o que custar. Prefere-se qualificar como “peacenik”, ou seja, aquele que acredita ser a agressão o que de pior possa suceder, devendo ser travada pela força.
Justifica, assim, que tenha combatido em 1967 e em 1973, quando os vizinhos árabes procuraram destruir o Estado de Israel. Acaso tal cenário se repetisse ele disponibilizar-se-ia para voltar a ser mobilizado, mas enjeita totalmente fazê-lo em prol de lugares sagrados, colónias, recursos naturais ou mais território. Lutar pela vida e pela liberdade, eis o que unicamente lhe interessa.
Para o conflito entre israelitas e palestinianos é um defensor convicto de um compromisso com concessões traduzíveis na  existência de dois Estados a viverem pacificamente lado-a-lado. Por isso mesmo, quando a Palestina solicitou o seu reconhecimento às Nações Unidas, teria considerado sensato, que Israel tivesse sido o primeiro país a caucionar esse pedido em vez de o obstaculizar. Porque seriam dois Estados soberanos a discutir em pé de igualdade as fronteiras, os lugares sagrados ou os recursos naturais.
Ao contrário do que vê descrito nos meios de comunicação ocidentais, Amos Oz tem de Israel uma imagem bem diferente das que o dão como habitado por 80% de zelotes fanatizados, a exemplo do que se vê nos colonos da Cisjordânia, 19% de militares impiedosos, submetidos acriticamente ao belicismo do governo, e a 1% de intelectuais como ele, ciosos de uma alternativa bem mais racional pra o estado atual das coisas na região.  Pelo contrário, vê Israel como o somatório dos seus oito milhões de habitantes, todos eles primeiros-ministros, profetas e messias, cada um deles com a sua fórmula pessoal para a redenção. Autêntico seminário ao ar livre, Oz define Israel como uma vasta coleção de argumentos contraditórios.
É contra qualquer fanático, porque o vê como um ponto de exclamação ambulante com todas as respostas e sem qualquer interesse pelas perguntas. É o que sucede com os seus personagens de «A Caixa Negra», um romance só em aparência sintetizável na fórmula de história de um amor desfeito.
O humor continua a ser o melhor remédio contra o fanatismo. Nenhum prosélito tem o mínimo sentido de humor, assim como nenhum humorista a sério tenderá a converter-se num fanático. Ora a tradição judaica tende a privilegiar a comédia em detrimento do drama e essa é uma arma não despicienda, quando se trata de conjeturar o futuro do Médio Oriente. 

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