quinta-feira, julho 20, 2017

(DIM) Quando o que tem de ser tem muita força


Em 20 de setembro de 1932 os promotores imobiliários envolvidos na construção do Rockfeller Center convocaram vários fotógrafos para recolherem aquele que seria um momento icónico da arte fotográfica do século XX. Onze dos operários de construção civil contratados para levantarem a armação metálica em que seria suportada toda a alvenaria sentaram-se numa viga a 260 metros de altura e simularam estar a aproveitar descontraidamente a pausa de almoço.
Os criadores da obra - os que a imaginaram, não os que a captaram em suporte fotográfico - precisavam de fazer do seu investimento um sucesso: a Grande Depressão ainda era demasiado recente com os seus efeitos - paralisia económica, desemprego - a fazerem parte do dia-a-dia.
Nós, que olhamos para a imagem oitenta e cinco anos depois, sentimos a vertigem de nos imaginarmos na pele daqueles homens, que consideravam ser um dia bom aquele em que picavam o ponto de manhã e regressavam incólumes a casa ao fim da tarde. Não admira que o propósito do realizador Seán Ó Cualáin e do argumentista Niall Murphy de «Men at Lunch», documentário estreado em 2012, fosse o de responder às nossas perguntas mais óbvias: quem eram esses onze homens? O que sentiam com Nova Iorque a seus pés, lá muito em baixo, e nenhuma rede a aguentar-lhes o peso se a gravidade os atraísse involuntariamente para o abismo?
As respostas seriam difíceis de assegurar, pois nem sequer há certezas quanto à autoria da fotografia publicada no «New York Herald Tribune» de 2 de outubro. Durante algum tempo julgou-se esclarecida essa questão, mas contraprovas deram no regresso ao ponto zero. Mas, porque a produção é irlandesa, de entre os muitos testemunhos de quem viria diria a jurar ver ali um pai, um irmão, um avô - sabe-se como o desejo de protagonismo facilita as efabulações dos mais dados à doentia imaginação! - eles escolheram dois irlandeses, supostamente atraídos para a cidade que nunca dormia como forma de escapar à fome endémica nos campos do seu país, e ali radicados durante muitos anos para ajudarem a construir a baixa de Manhattan durante a década anterior à Segunda Grande Guerra.
Seriam necessários cinquenta e tal minutos para nos dar a conhecer a imagem em causa e sobre ela perorar de acordo com as mais contraditórias teorias? Decerto que não! O problema de muitos filmes deste género é terem de respeitar um formato temporal, que não condiz com quanto têm a revelar. No essencial a estória resume-se a isto: os operários de então corriam riscos medonhos, que transformavam cada dia num permanente desafio à morte? Sim! Mas, entre o desemprego e a fome, ou um precário ordenado ao fim da semana, a opção não se colocava. O que tinha de ser tinha muita força!

Sem comentários: