sábado, julho 15, 2017

(DL) O fim da história segundo Luís Sepúlveda

Não se trata de nada sobre que Francis Fukuyama perorou. É a história com h pequeno, bem mais relevante para quem a vive do que a com H grande, que fura os prognósticos  dos seus mais atrevidos adivinhos.
E é o fim, porque todos temos o direito de fechar ciclos, mesmo os respeitantes às revoluções perdidas.
Quando abrimos o mais recente romance de Luís Sepúlveda recuamos cem anos: mergulhamos na enorme confusão subsequente ao assalto do Palácio de Inverno, quando a momentânea vitória bolchevique viu-se ameaçada pelas hordas inimigas onde figuravam os cossacos do ataman Krasnov.
Aprisionado esse chefe Trotski, viu-se na contingência de decidir se o fuzilava ou não. A vontade tendia-lhe a dar essa ordem, mas a prudência levara-o a poupá-lo. Não imaginava ele quão imprevisíveis seriam as consequências da súbita compaixão, porque Miguel Krassnoff, neto do ataman, viria a ser um dos mais cruéis torcionários da ditadura chilena, apontando-se-lhe centenas de homicídios.
Não se trata de uma estória saída da imaginação do escritor chileno, mas factos indesmentíveis por ele recolhidos na investigação sobre os crimes cometidos na Villa Grimaldi e noutros centros de tortura do regime liderado por Pinochet.
De «Nome de Toureiro», romance que conhecemos há meia dúzia de anos, Sepúlveda resgatou Juan Belmonte, o antigo militante allendista, que tinha o nome de um famoso matador de touros espanhol. Tínhamo-lo deixado nas terras mais ao sul, onde dois oceanos se encontram, a viver com a silenciosa companheira, irreversivelmente afetada pelo sofrimento infligido por esse mesmo Krasnoff.
Belmonte é chamado a Santiago para localizar cinco homens vindos da Rússia de Putin para, a manda de forças subversivas cossacas, tentarem libertar o assassino, cujo ascendente religioso era tido como determinante para lançarem atividades separatistas contra o Kremlin.
O romance assume a filiação no género policial, mas nunca descurando a preocupação em denunciar a tragédia que se abateu em 1973 sobre o povo chileno a mando das multinacionais norte-americanas, que corromperam e financiaram os generais golpistas. É por isso muito mais do que um mero entretenimento, mesmo que de temática progressista, porque coloca questões pertinentes sobre qual a resposta mais consequente: vingar os mortos e os torturados com um certeiro tiro de um sniper  no meio da testa do assassino ou deixá-lo aprisionado até ao fim dos dias numa prisão, mesmo que com demasiadas mordomias.
E como as forças telúricas são tão agitadas na placa longitudinal, que acompanha o recorte costeiro do país,  o desenlace coincide com violento terramoto.
Sepúlveda voltou a oferecer-nos uma trama, que constitui um verdadeiro regalo para quem gosta de estórias bem contadas. 

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