segunda-feira, julho 17, 2017

(DIM) Um botão para um inexistente paraíso

Continuo sem compreender a sanha com que alguns europeus encaram a continuidade ou não de Bashar al Assad à frente da Síria. Então nos franceses surgiram entusiásticos militantes da causa rebelde sem que ninguém os confronte com as consequências de, em tempos, terem militado pela queda de Khadafi com as consequências decorrentes desde então nesse território por onde partem mais desesperados em busca de uma mirifica salvação numa Europa, que os repele. Para terem substituído o anterior ditador líbio pelos vários candidatos a essa mesma sucessão - mas com perfil ainda mais criminoso -, bem podem limpar as mãos à parede.
Ninguém parece, igualmente, interessado em atirar-lhes à cara a convivência multiétnica e multiconfessional na área dominada pelo regime sírio em comparação com o exclusivo primado muçulmano sunita no lado contrário. À exceção da Tunísia - e vamos lá a ver até quando! - todos os países que viveram a Primavera árabe tornaram-se asfixiantes para as minorias. Veja-se a má sorte de ser copta no Egipto ou cristão no Iraque.
O interesse do documentário «Dugma: the Button», realizado em 2016 pelo norueguês Paul Refsdal, é o de nos dar a conhecer alguns desses fanáticos, dispostos a matarem-se para imporem um regime jihadista em Damasco. É sinistro o riso do saudita Abu Qaswara, quando nos mostra a tecnologia aplicada num veículo blindado destinado a ser utilizado numa missão suicida. Ele próprio inscrito na lista dos candidatos a mártires, é quase com candura, que detalha a crença de conquistar o paraíso através do ato assassino de matar o máximo de inimigos, por muitas vítimas colaterais, que venham a ser mortas pela explosão do engenho ativado com a pressão de um botão.
Terrível, igualmente, a pressão do pai com quem fala pelo telefone e impaciente por o ver enfim a assegurar não só o passaporte para o paraíso, mas também o de outros setenta homens da família, cujos pecados terão sido perdoados graças ao seu sacrifício.
Há também um inglês de gema, Abu Basir al-Britani, idiota depressa levado a riscar a inscrição no tal livro dos mártires, porque casou entretanto e perdeu a vontade de desistir tão facilmente dos prazeres recém-descobertos pelo corpo até então virgem.
Se a organização terrorista deu carta branca a Refsdal para filmar o que quisesse, foi para garantir uma imagem positiva junto dos seus financiadores europeus. E, de facto, assim parece, pois o norueguês revela-se empático com os anfitriões. Mas se quisermos olhar com atenção para lá da primeira impressão, depressa constataremos quanto tudo aquilo é absurdo e medonho.

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