quarta-feira, julho 26, 2017

(DL) No universo dos sonhadores involuntários

Os sonhos aceleram os passos de Daniel Benchemol, o protagonista do mais recente romance de José Eduardo Agualusa., quando dobrei o cabo das primeiras cem páginas.
Hochi, o antigo guerrilheiro da Unita, que fora morto por um raio e ressuscitado por outro, é sonhado por todos quantos o rodeiam. Que começam a olhá-lo como curiosidade, se põem depois a desconfiar do seu poder e até o julgam capaz de ensinar aos polícias uma nova e potente arma para exercerem a missão de controlar as consciências. Aparentado a um bruxo é abandonado à sua especificidade, que o chega a assombrar na hipótese de recorrência.
Moira, a artista moçambicana, que vive em Cape Town, cria fotografias e telas ajustadas aos sonhos dos que as apreciam e nelas reconhecem prévias divagações oníricas.  Sem ambicionarem quaisquer significados concretos.
Hélio, o neurocientista brasileiro, procura melhorar as capacidades da máquina de fotografar os sonhos em que trabalha, quiçá tornando-a capaz de torná-los filmáveis.
Perante a realidade angolana em que os sonhos justificam suspeições, e até prisões, a capacidade de os induzir nas mentes alheias poderá viabilizar a estratégia dos que ambicionam um país bem diferente. Como o próprio Daniel Benchemol. E esse acaba por ser o tema do mais óbvio romance metafórico de Agualusa sobre o seu país de origem.

Sem comentários: