terça-feira, julho 25, 2017

(DIM) Antecipando uma das efemérides do ano que vem

No próximo ano passarão cinquenta anos sobre os assassinatos de Martin Luther King e de Robert Kennedy e será natural que a América os homenageie da forma como costuma fazê-lo nestas circunstâncias: com muita pompa e circunstância. O problema é ter na Casa Branca quem está no lado radicalmente oposto ao que ambos defendiam. Por isso, e se Donald Trump, ainda continuar a fazer de conta que é Presidente, constituirá motivo de particular interesse constatar a contradição entre a obrigação honorífica e a tentação de a esquecer.
Deixando de lado a personalidade do político da família Kennedy - que mereceria por si próprio uma abordagem específica quanto às suas virtudes e defeitos! - confesso nunca ter sido particularmente entusiasta da ação do reverendo King. Se a História lhe deu o benefício de ter causado uma revolução de efeitos bastante mais latos do que os enquadráveis no seu conhecido «sonho», a personalidade conciliadora terá exasperado, mais do que estimulado, os destinatários da sua luta. Por isso os Black Panther acabariam por surgir como resposta à luta por meios exclusivamente pacíficos como ele advogava. Mesmo que os efeitos das suas ações violentas tenham, aparentemente, dado razão a quem pregava as vantagens da resistência passiva. Pode-se, porém, questionar se os sucessivos retrocessos racistas da sociedade norte-americana, particularmente nos Estados do Sul, não têm origem nessa escusa da comunidade negra em exigir os direitos cívicos com outra contundência.
Reconheço que a não simpatia pelo assassinado tem muito a ver com o facto dele recorrer a Deus e aos textos bíblicos para justificar o alegado desejo de justiça. Seja na América dos anos 60, quer no mundo atual, deixemos aos deuses e seus crentes o que só a eles diz respeito, sobrando para os homens o essencial, ou seja, a transformação progressista da organização social.
O documentário «MLK: The Assassination Tapes», que Tom Jennings realizou em 2012, tem um conceito interessante: em vez de recorrer aos testemunhos de quantos os conheceram, utiliza exclusivamente as imagens da época, permitindo que, através das reportagens televisivas das semanas anteriores ao desenlace de 4 de abril de 1968  e dos dias subsequentes, se compreenda a responsabilidade das autoridades de Memphis na criação do clima propício ao crime. É que estava em curso uma greve dos trabalhadores do lixo da cidade e o mayor decidira responder-lhes com a força bruta. Entre os brancos racistas, que apoiavam o político em causa e a comunidade negra, a que pertencia a grande maioria dos grevistas, Luther King quis situar-se como a ponte possível, que nunca poderia ser. E fica a suspeição de se questionar como terá sido possível ao assassino posicionar-se no prédio em frente ao Lorraine Motel, com tantos guardas a supostamente garantirem a proteção do seu alvo?  E como terá conseguido dali fugir, só vindo a ser capturado em Inglaterra alguns meses depois?
O documentário de Jennings constituirá uma das peças fundamentais para recordar esses tempos difíceis para a generalidades dos norte-americanos da época da guerra do Vietname, quando se cuidar de a reequacionar um tipo de conflitos, que continuam na ordem do dia meio século depois.


Sem comentários: