domingo, março 18, 2018

(P) Beckett by Brook


Peter Brook é o sobrevivente de uma geração de encenadores, que revolucionaram a arte teatral. Precoce, aos 17 anos encenou em Londres o seu primeiro espetáculo: «The Tragical History of  Doctor Faustus» de Christopher Marlowe. Era o início de um percurso, que o levaria a dirigir mais de uma centena de peças de teatro e de óperas já aí se detetando a obsessão pela rutura, pela exigência de uma outra forma de as apresentar.
Grande sacerdote de Shakespeare - que definiu como um “arranha-céus” - Peter Brook a ele sempre regressou, impondo-lhe uma visão estilizada, muito distinta dos cânones isabelinos.
Nos anos setenta instalou-se em Paris para fundar o Centro Internacional de Pesquisas Teatrais (CIRT), instalando-se num edifício arruinado, onde cria espetáculos apenas recorrendo a um tapete e algumas almofadas. O espaço vazio permite-lhe focalizar-se na direção dos atores e apelar à imaginação do público. Adapta os grandes clássicos («Romeu e Julieta», «O Cerejal»), mas também textos contemporâneos de Sartre ou Arthur Miller. Integra na companhia atores africanos, nomeadamente Sotigui Kouyaté, que se torna num dos seus principais colaboradores, interpretando Polónio em «Hamlet» ou Prospero em «A Tempestade».
Em 1985 apresenta em Avinhão um dos seus mais famosos projetos: o «Mahabharata», em que trabalhara durante anos a fio. Com a duração de nove horas e com atores de quinze países, a epopeia indiana ganhava uma notoriedade até então quase desconhecida na Europa. Trinta e três anos depois mantém a opinião de que a utilidade de uma perspetiva só é obtida, quando a ela se lhe dedica toda a atenção. É por isso que, em breve, e já com 93 anos, apresentará o seu novo projeto - «O Prisioneiro» - no seu teatro parisiense.
Disponível fica-nos hoje, no canal Arte, uma abordagem do espetáculo «Fragmentos», que criou com Marie Hélène Estienne no mesmo espaço, e fruto da adaptação de cinco peças curtas de Samuel Beckett, interpretadas por Kathryn Hunter, Jos Houben e Marcello Magni.
Durante uma hora, além de excertos dessas interpretações, vemos Brook e Estienne a explicarem os fundamentos de um projeto demonstrativo de como o humor pode salvar-nos dos imbróglios da existência humana. Rejeitando as teorias e os dogmas, Beckett observa as pessoas e descobre-lhes a verdade através das janelas abertas para dentro de si mesmas e pelos que as rodeiam.

Sem comentários: