domingo, março 11, 2018

(DL) «As Dores», Maria Teresa Horta


Judite ainda não chegou à puberdade quando viu a mãe sair de casa para viver outros amores, que não os do marido ou o das filhas. Mas esse abandono não é o único a suscitar-lhe as dores, que a conduzirão ao suicídio: ela é a enjeitada, aquela que é tida como a mais parecida com essa progenitora a quem a família dedica os piores epítetos. E mesmo a avó, que lhe prodigalizava carinhos, morrera-lhe numa noite em que adormecera a agarrar-lhe a mão.

Maria Teresa Horta descreve um mundo tenebroso, que condena as mulheres irreverentes quando elas rejeitam a conformada aceitação dos deveres e procuram a satisfação dos afetos. Os homens são déspotas frustrados ou passivos espectadores das mudanças à sua volta e não faltam megeras (a madrasta) dispostas a condenarem as que se revoltem contra os padrões em que se sentem confortáveis. Mas, mais do que a estória em si, há o prazer da leitura dessa escrita rica na sintaxe e com muito de poético a associar-se à prosa escorreita.
Apesar de se tratar de uma novela curta, »As Dores» é um dos textos de Maria Teresa Horta, que mais prazer me deu ler.

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