quarta-feira, março 07, 2018

CINECLUBE GANDAIA: «Como se Conquista um Milionário» de Jean Negulesco (1953)


Em 1953 a Fox conseguiu um sucesso comercial acima das expetativas com «Os Homens Preferem as Loiras», primeiro filme abordado neste ciclo sobre a capacidade de Marilyn Monroe para divertir multidões. Daí que os produtores tenham avançado para outro projeto, que adotasse a mesma receita e alcançasse um reconhecimento público ainda mais enfático. Para tal não pouparam no elenco feminino: além de Marilyn, acompanharam-na com Lauren Bacall e Betty Grable, atrizes com público garantido , a primeira pelos papéis com Humphrey Bogart, com quem se casara entretanto, e a segunda como sendo a pin up preferida dos GI’s na Guerra da Coreia. A história, ainda mais linear do que a do filme de Howard Hawks baseia-se no mesmo princípio: que importa o amor se uma rapariga jeitosa tem todas as condições para se dotar de um milionário com conta bem recheada, acima dos seis dígitos? A diferença é que, enquanto no filme anterior, eram as mulheres a deterem todos os cordelinhos de uma intriga, que as favorecia, aqui são iludidas a tomarem a aparência pela realidade, acabando  desfeiteadas no objetivo inicial.
A Fox acrescentava ao filme dois atributos técnicos, que explicariam a adesão de prodigiosas afluências de espectadores: a adoção do formato Cinemascope e do som estereofónico, que se julgariam suficientes para cativar os que se sentissem demasiado tentados a sentarem-se nos sofás caseiros a olharem acriticamente para os programas televisivos.
Apesar de ter havido um filme bíblico - «A Túnica» - a estrear-se primeiro e a, por isso mesmo, ganhar a fama de se tratar do primeiro a recorrer á nova técnica de imagem, teria sido na realidade este «Como se Conquista um Milionário» a recorrer pela primeira vez a ela. E assim se explicam os seis primeiros minutos de filme, em que se  vê a orquestra da Fox, liderada pelo maestro Alfred Newman a interpretar o tema «Street Scene», composto para o filme, e logo se sucedem imagens icónicas de Nova Iorque, desde o Rockfeller Center ao Central Park, do edifício das Nações Unidas à ponte de Brooklyn. Era como se os produtores quisessem fidelizar os consumidores possibilitando-lhes um passeio turístico pelo preço de um bilhete de cinema.
Ao invés do filme anterior, em que a Fox recorrera a um dos seus melhores realizadores (Howard Hawks) para este incumbiram Jean Negulesco, um mero tarefeiro sem grande imaginação, que iniciara-se na indústria cinematográfica nos anos 30 como eletricista. Daí que o resultado seja esta comédia romântica com um argumento bastante ingénuo e algo disparatado.
Lauren Bacall é quem domina a estória como líder das outras duas, emitindo comentários ricos e inspirados. Betty Grable já estava a entrar em declínio e nunca sai do registo da «loira burra», e de bom coração. Mas é Marilyn quem nos proporciona as cenas mais cómicas  com o seu gag dos óculos, sem os quais não consegue ver um palmo à frente dos olhos. Acabamos por rir com as situações em que ela embate nas paredes ou fala sozinha numa sala onde julgava estar acompanhada.
O momento mais curioso será, porém, aquele em que Lauren Bacall faz uma pilhéria com a sua relação conjugal, ao justificar o interesse por um pretendente mais velho a pretexto de gostar de Roosevelt, de Churchill … ou do ator de «African Queen»! Será esse um dos momentos mais interessantes de um filme, que fica uns furos abaixo dos demais títulos deste ciclo.

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