sexta-feira, março 23, 2018

EDH) O que resta do Amoco Cadiz?

Em 16 de março de 1978 o «Amoco Cadiz», petroleiro gigante de 234 mil toneladas, naufragou em Portsall, na costa bretã, naquela que se tornaria uma das piores catástrofes ecológicas da História dada a dimensão da maré negra causada.

A sucessão dos acontecimentos foi sinteticamente esta: às 9h45, ao largo de Ouessant, detetou-se uma fuga de óleo do sistema hidráulico de comando do leme, que deixou o navio à deriva dos fortes ventos e das correntes, que se verificavam nesse dia.  Às 11h30, ao constatar a impossibilidade de ver reparada a avaria, o comandante italiano solicitou que lhe enviassem rebocadores.  Às 12h20 já o «Pacific» estava à sua beira, mas foram necessárias quatro horas de negociações para que o armador de Chicago aceitasse o custo dessa assistência. Demasiado tempo para que se evitasse o desastre.

Enquanto o petroleiro ia derivando lentamente para a costa, os cabos do rebocador cediam, fracassando todas as manobras para segurar o navio. Em desespero de causa recorre-se ao «Simpson», rebocador mais potente e mais caro, mas que estava dali distante 40 milhas.

Às 21h40 o petroleiro embate nos rochedos da costa e afunda-se definitivamente às 22 horas. O «Simpson» chega trinta minutos depois, Demasiado tarde.

Mas a investigação, que se seguirá, abre outras novidades surpreendentes: quando saíra do estaleiro em 1974 o navio já tinha essa pequena perda de óleo no sistema de comando do leme, decidindo-se corrigi-la na docagem  planeada para 1976. Só que, nessa altura, com os mercados a exigirem o abastecimento das suas crescentes necessidades de combustível, os armadores abreviaram o mais possível essa paragem para manutenção, adiando uma vez mais a resolução definitiva da avaria. Uma decisão que se revelaria desastrosa e quiçá tão gravosa quanto o tempo perdido a discutir o recurso aos rebocadores, que pudessem socorrer o navio antes do naufrágio.
Nos dias seguintes o mastro do navio ainda estava emerso, mas a atenção focava-se no morticínio de aves e peixes, desprotegidos da fatal agressão que a mancha de petróleo derramado lhes impunha. Confirmava-se a maldição popular intuída pelos bretões em como tantas vezes os ventos pareceriam coligar-se contra si. Porque a tentativa de bombear o  petróleo dos tanques logo fracassa quando o casco se parte em dois e a mancha espalha-se sem nada a poder debelar. Os militares destacados para o terreno e para patrulharem a costa assistem impotentes à sua difusão ao longo de 340 quilómetros.

Uma testemunha em terra recorda à distância de quarenta anos: “conserva-se em mim o odor, porque nos 30 kms que nos rodeavam, o cheiro a petróleo era insuportável. Compreendíamos então, que o petróleo que poluía o mar era o mesmo, que costumávamos usar nos depósitos dos nossos carros.”


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