terça-feira, março 06, 2018

(AV) A quase desconhecida fase caribenha de Gauguin


Paul Gauguin confessava que a experiência vivida na Martinica foi decisiva para o seu percurso artístico posterior. No noroeste da ilha, aonde as praias têm areia escura e os céus mudam incessantemente de tonalidades, Paul Gauguin procurou verter a paisagem para as suas telas, quando já estava quarentão, em 1887. Viveu-a como uma espécie de choque sensitivo e de regresso às origens, sentindo-se perfeitamente à vontade. As cores, a luz, as mulheres negras fazem-no reviver as memórias da infância vivida no Peru.
Embora só fique na ilha durante cinco meses é na Martinica, que Gauguin vai testar a sua paleta de exotismo nas cores exuberantes e quentes, que lhe desafiam a imaginação. «A colheita de mangas» ou «à Beira-mar» são dois dos quadros mais representativos deste período, que passa quase despercebido nas biografias do pintor.
Gauguin afasta-se decididamente do impressionismo e a estadia na ilha irá ser um período de transição para a fase seguinte em que quer reencontrar a indolência do mundo tropical da sua infância.
Encanta-o o convívio com os pescadores de Le Carbet, aonde aluga uma casa e onde se põe à descoberta de tudo quanto desconhecia na natureza. Apesar de afetado pela disenteria, Gauguin preenche cadernos de rascunhos uns atrás dos outros.
Regularmente desloca-se a Saint-Pierre para receber e enviar cartas, sobretudo para a mulher, então a viver com os cinco filhos na Dinamarca. Mas no mercado local também compra especiarias, que lhe servem para preparar as tintas com que anseia inovar nas técnicas de pintura. Mas não só, porque a beleza da mulher negra também lhe estimula o desejo de a fixar em escultura.
A doença e a falta de meios acabam por prevalecer sobre a vontade de ali se radicar, acabando por regressar á metrópole com os doze quadros, os rascunhos e algumas peças escultóricas, que correspondem ao saldo artístico de uma estadia que ele teria desejado bem mais prolongada.
Seria na Polinésia, que ele potenciaria aquilo que nas Caraíbas apenas aflorara.

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