Existem razões muito sérias para temer pelo futuro do pólo Norte. Até recentemente poupado à exploração industrial de cariz globalizado, o Ártico arrisca-se a ser o derradeiro el dorado para as companhias petrolíferas. O que, conjugado com a fusão dos gelos causada pelo aquecimento climático, implica enormes riscos ecológicos: uma maré negra teria um impacto bem mais grave do que aconteceria em qualquer outro ponto do planeta.
O primeiro sinal de uma mudança política em relação à região aconteceu em 2007, quando Vladimir Putin anunciou o interesse russo na exploração do seu potencial petrolífero estimado em 90 mil milhões de barris a médio prazo.
Logo outros países - Estados Unidos, Groenlândia, Noruega, etc.) - reclamaram a sua parte do bolo, discutindo as fronteiras, que os separam. Outros, como a China ou a Coreia do Sul, embora geograficamente distantes, também não se alhearam da intenção de participarem no festim.
As grandes multinacionais petrolíferas, por seu lado, iniciaram projetos de prospeção , aproveitando a inexistência de legislação internacional, que as condicionasse.
A reação dos que defendem a Natureza não se fez esperar, alertando para alguns perigos iminentes: uma plataforma da Shell, que ficou á deriva e quase naufragou, uma central nuclear russa construída no permafrost, a tornar previsível um terrível acidente causado pela movimentação das terras em que assenta à medida que elas descongelarem.
O documentário de Tania Rakhmanova enuncia alguns cenários catastróficos, fundamentando-os com uma precisão convincente.
Os investimentos industriais colossais, os políticos ignorados ou transformados em aliados sob promessas de grandes afluxos financeiros, a escusa aos mais elementares princípios da segurança ambiental: o retrato resultante de tudo isso é assustador.
O Ártico parece condenado a transformar-se no cenário de experimentação de todas as desregulamentações contemporâneas, demonstrando que muitos interesses poderosos estão decididos a brincar com o fogo para garantirem lucros avultados. Sempre na lógica neoliberal de privatizarem os lucros obtidos e “partilharem” os eventuais prejuízos.
Recorrendo a numerosos depoimentos e procurando variar as perspetivas dos mesmos temas, o filme aciona o sinal de alarme dando a entender nunca terem sido aprendidas as lições de cataclismos tão trágicos quanto o foram a explosão da plataforma petrolífera da BP no golfo do México ou o naufrágio de petroleiro «Exxon Valdez» nas costas do Alaska.
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