Em 690, Wu Zetian prepara-se para ser a primeira imperatriz chinesa, depois de ter sido uma regente brutal durante sete anos.
Para abrilhantar a cerimónia ela faz construir uma gigantesca estátua de Buda na proximidade do palácio imperial. Mas dois dos seus principais colaboradores, envolvidos no estaleiro da construção, morrem subitamente com poucas horas de intervalo e de uma forma inexplicável: como se se incendiassem a partir de dentro dos próprios corpos, ficando carbonizados em poucos minutos.
A soberana encarrega o juiz Dee de levar a cabo a investigação, apesar de o ter anteriormente encarcerado por insubordinação.
Apoiado em dois guerreiros corajosos (a bela Jinger e o juiz Pei), mas que também servem de informadores da futura imperatriz, ele vai à procura de respostas para essas mortes, escapando a sucessivas armadilhas. Gerindo em pinças a delicada relação, que mantém com aquela que o incumbiu de tal missão.
Estes personagens nasceram na Europa a partir da imaginação do escritor holandês Robert Van Gulik, que popularizou as aventuras do juiz Ti, um magistrado tão integro, quanto sagaz, que terá exercido realmente os seus dotes na época dourada da dinastia Tang.
Estamos numa sociedade onde todos se vigiam, ora comportando-se como traidores, ora como salvadores. É um mundo dúplice, de manipulação permanente tal qual é muito bem simbolizada no ataque dentro de uma gruta labiríntica onde os atacantes são bonecos comandados por fios como marionetes. Nota-se bem a imagem de marca dos filmes de Tsui Hark, sempre com inspiração nos mecanismos dos filmes de aventuras da época clássica do cinema, quanto comportavam um estilo próximo do folhetim. A intriga, nas suas muitas voltas e reviravoltas, é o que mais parece entusiasmá-lo. É a ação, ação, ação. Com o mais ínfimo acessório - por exemplo uma placa de cobre - a transformar-se num projétil poético. Como sucede na cena em que um casal prepara-se para o amor e é interrompido por uma catadupa de flechas - as do ciúme - que ora os separa, ora os volta a juntar.
O detetive Dee é um combatente excecional, mas também uma espécie de Sherlock Holmes, quando procura indícios e usa a dedução científica em detrimento das superstições e do sobrenatural, que o rodeiam.
O filme resulta numa estranha alquimia ao misturar factos históricos com a magia mais extravagante.
A variedade de símbolos e de subterfúgios é tal que convida o espectador a detetar um sentido oculto em tudo quanto vê. Não estará implícita uma crítica a Mao Zedong no exagerado culto da personalidade da imperatriz? E a enorme torre, que constitui uma arma de destruição maciça, não lembra as torres gémeas do World Trade Center, quando cai estrondosamente?
Pode ser vontade de ver metáforas onde elas nem sequer estavam pensadas como tal, mas todas elas são bem vindas a este fabuloso universo.
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