Não é só em Portugal, que temos aldeias e cidades do interior, onde os novos quase todos zarparam e só restam os velhos, sentados em frente à televisão ou à beira da estrada a olharem para os poucos carros, que passam, quase sem trocarem palavra...
«Nebraska» fala dessa realidade e constitui o melhor filme de quantos já vi com a assinatura de Alexander Payne. Porque consegue suscitar o riso sem jamais se aproximar da boçalidade e fala de afetos sem cair na lamechice. Mas, sobretudo, porque optou inteligentemente por um preto-branco, que dá a identidade própria ao filme, totalmente distinta da que ele teria a cores.
Mas, porque estamos na América e a ideia de sucesso está atavicamente inserida nos genes de quem lá nasce - muito embora quase ninguém a ele chegue! - o filme também é sobre isso mesmo: nem que seja apenas por uns quantos minutos Woody Grant consegue a suprema realização de se passear pela rua principal da cidadezinha onde nascera ao volante do seu novo carro, alimentando a ilusão de ter ganho o prémio de um milhão de dólares, que sempre soube ser uma vigarice publicitária. E criando admiração ou inveja de quantos sempre o tinham visto como um tipo igual a qualquer outro.
Os equívocos relacionados com esse prémio também permitem revelar o lado mais venal das pequenas comunidades que, tão só vejam algum dinheiro ao alcance, logo tratam de inventar as maiores aldrabices para a ele acederem. Tudo se resume afinal ao direito a ter sonhos e a vivê-los, mesmo que não passem disso mesmo.
Mas quem igualmente aproveitará a viagem é David, o filho de Woody, que não só o ajuda a levar o projeto até ao fim, como descobre um lado bastante mais colorido do que havia sido o passado dos pais na terra donde tinham imigrado. É que na visita ao cemitério com a mãe ou ao jornal local, concluirá por episódios bem menos respeitáveis do os que a história familiar conservara.
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