A publicação para breve do mais recente vómito literário de Michel Houellebecq não merecerá aqui a atenção, que levou por exemplo o suplemento Ípsilon do «Público» a dedicar-lhe a capa da sua edição mais recente. É que se queremos visitar realidades semelhantes - onde personagens vagueiam sem qualquer futuro e numa abjeta rendição às circunstâncias - há quem, em França, forneça alternativas mais interessantes.
É o caso de Virginie Despentes, que acaba de publicar o primeiro volume de uma trilogia intitulada «Vernon Subutex». Editada pela prestigiada Grasset, a autora anuncia o segundo volume já para março.
Em Portugal ela é quase uma desconhecida, muito embora a Sextante lhe tenha publicado o «Apocalypse Baby» com que ganhou o Renaudot há quatro anos, e o seu filme «Baise-moi» haja passado nos cinemas.
Conhecida pelo seu percurso biográfico, que incluiu uma violação em adolescente quando andava à boleia, e por ter andado a prostituir-se e a dançar em peep shows, Virginie Despentes viveu os excessos inerentes ao consumo imoderado de álcool, drogas e rock’n roll.
Vinte anos passados, já vai no seu décimo romance, que revisita esses ambientes com a credibilidade de quem muito bem os conheceu.
O protagonista é Vernon Subutex a quem a crise fez perder o seu negócio discográfico. De algibeiras vazias vagueia por Paris, dormindo nos sofás dos que tinham sido seus clientes, amigos ou namoradas, sem imaginar que uns quantos mal intencionados andam a procura-lo para lhe roubar a cassete confessional entregue por Alex Bleach, um conhecido rocker, antes de morrer de overdose.
Mais do que um policial, o romance é sobre o fim de uma época em que o rock irreverente e subversivo foi atirado para o caixote do lixo por rappers, que cantam sobre os seus luxuosos relógios e as mulheres-objeto com que se deitam.
Estando a viver a separação afetiva com a sua companheira dos últimos dez anos, Virginie tem boas razões para aqui sublimar a sua amargura.
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