Quando olhamos para tudo quanto tem ocorrido no caso de (in)justiça, que envolve José Sócrates, julgamo-lo uma especificidade portuguesa. Pensamos que só aqui é possível que magistrados se conluiam para forjar matéria de acusação, onde ela não exista, e contem para tal com a cumplicidade de uma “imprensa” disponível para proceder a julgamentos antes de eles, efetivamente, ocorrerem na barra do tribunal.
Ao ver o filme «Crime na Finlândia», realizado por Pekka Lehto, somos forçados a reconhecer uma “cultura” semelhante nos procuradores de outros países, feita de contornarem a incapacidade em demonstrarem os seus preconceitos através da criação de um clima social propício a uma condenação sem provas verdadeiramente fundamentadas.
O caso de Anneli Auer passou-se em Ulvila, uma pequena cidade no oeste da Finlândia, em 1 de dezembro de 2006, quando ela telefonou para a polícia local a pedir socorro.
Quando os agentes chegaram ao local descobriram o corpo sem vida de Jukka, o marido de Anneli. Quer ela, quer a filha Amanda, de 9 anos, afirmaram que um desconhecido entrara em casa e agredira Jukka.
Porque suspeita da culpabilidade da viúva, a polícia não mostra o menor escrúpulo em utilizar um dos seus agentes para a seduzir e tornar-se seu amante.
Em 2009 inicia-se o julgamento de Anneli, que é condenada a prisão perpétua, sob o argumento de ter forjado uma gravação com a voz de Jukka ainda vivo a pedir socorro e que terá utilizado no telefonema para a polícia local.
Em segunda instância o advogado de Anneli comprova a falta de consistência das provas incriminatórias utilizadas no julgamento anterior e consegue um veredito de inocente.
Quem diria que o procurador encarregado do caso ficaria satisfeito? Vendo o caso como uma desfeita pessoal, inicia um novo processo em que consegue utilizar os filhos mais novos de Anneli a “confessarem” terem sido agredidos em práticas satânicas e molestados sexualmente pelos pais, testemunhos imediatamente publicados em grandes parangonas pelas versões locais do «correio da manhã».
De entre os argumentos então utilizados estava a máxima «as crianças não mentem», que esteve muito em voga durante o processo Casa Pia e conduziu à condenação, provavelmente injusta, de Carlos Cruz. Ou, em alternativa, o do rosto impassível de Anneli, mesmo nos momentos mais dramáticos, o que faz lembrar em quem quis ver na falta de lágrimas na mãe de Maddy McCann a confirmação da sua culpabilidade.
Ora os miúdos não só incriminam a mãe como a própria irmã, que ainda nem chegara à puberdade na altura dos acontecimentos.
Quem e porquê os terá assim industriado? As suspeitas vão para o próprio irmão de Anneli, que ficara com a tutela dos três miúdos, sendo remunerado pelo Estado finlandês por tal “serviço” e graças ao qual - e muito provavelmente ao que lhe pagaram os tais pasquins sensacionalistas - passou a conhecer um desafogo financeiro até então desconhecido.
Novamente presa a condenada - desta feita por crueldade para com os filhos e animais e práticas satânicas (que ninguém conseguiu comprovar) - Anneli é a protagonista de uma infâmia judiciária, que só pode indignar quem assiste a este documentário, que procura dar o ponto de vista dos que a acusam e dos que a defendem.
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