domingo, janeiro 11, 2015

DIÁRIO DE LEITURAS: Reflexos de uma América, que não era propriamente terra de sonhos...

Na literatura policial norte-americana  existiu uma viragem muito significativa dos anos 40 para os anos 50 do século passado com o desaparecimento de alguns dos criadores da hard boiled school.
Caroll John Daly deixa de colaborar com a revista «Black Mask» em 1944, Dashiell Hammett já concluíra a veia criativa nos anos 30, Raoul Whitfield morrera em 1945 e Cleave Adams em 1949, o ano em que igualmente se suicida Norbert Davis. Quanto a Horace McCoy, a Paul Cain ou a Jonathan Latimer só se dedicavam ao cinema
Sobreviviam, pois, Erle Stanley Gardner com a série de romances protagonizados por Perry Mason e Raymond Chandler com o seu Philip Marlowe.
Foi, contudo, o surgimento do filme negro, que possibilitou o aparecimento de uma nova geração de autores com uma perspetiva mais atualizada sobre as transformações por que então passava a América.
É que os anos 50 são de um enorme boom económico, que garante uma melhor qualidade de vida a percentagem significativa da população. Só entre 1940 e 1960 a produção nacional norte-americana aumentou 400%.
Os novos autores - Ross McDonald, Roy Huggins, John Evans ou Thomas B. Dewey -  testemunham a evolução social pela qual a classe média obcecada pelo dinheiro passou a poder comprar bens de conforto a preços acessíveis, mas com 37% da população completamente marginalizada dessa redistribuição da riqueza.
Essa classe desfavorecida estava confinada aos guetos das metrópoles desertificadas pela pequena burguesia, entretanto imigrada para os novos bairros dos subúrbios.
Torna-se, então, pertinente o problema da segurança urbana ligada à delinquência juvenil.
Até então comodamente instalados na certeza de que o FBI de Edgar B. Hoover já dera cabo de todos os gangsters dos tempos da Depressão, os norte-americanos do pós-guerra viram-se sobressaltados pelas forças obscuras, que surgiram a sabotar os próprios fundamentos do país e da nação.
Uma dessas forças será o inimigo estrangeiro com agentes dentro da própria América: os comunistas. È a época da histeria anticomunista, que tornará possível o fenómeno macartista.
A outra ameaça tornou-se particularmente inquietante com a investigação conduzida pelo senador Estes Kefauver sobre a nova geração de gangsters infiltrados em todos os domínios da sociedade americana.
Se havia quem apostasse viver no melhor dos mundos, também não faltava quem acordava diariamente para as angústias de não ter sequer com que sobreviver decentemente.
O romance policial dos anos 50 vai mergulhar a fundo nessa realidade…

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