Dos atuais escritores italianos tenho uma simpatia especial por Erri di Luca, apesar de me deixar muitas vezes desconcertado a respeito de alguns dos seus posicionamentos políticos, como sucedeu quando foi um dos episódicos apoiantes do palhaço grillo.
Agora irei acompanhar com curiosidade o julgamento que, no dia 29, ocorrerá em Turim tendo-o como réu mediante a acusação de incitação à sabotagem das obras do TGV entre Lyon e aquela cidade italiana devido aos efeitos ecológicos num dos mais belos vales do Piemonte.
Aos 64 anos, Erri (cujo nome verdadeiro é Harry por causa da sua avô britânica) vive como um eremita na sua casa situada nas margens do lago Bracciano e onde só conta com a companhia de dois gatos. Dá-se aí ao prazer do silêncio, que também é um dos principais benefícios colhidos do alpinismo, atividade a que se dedica com alguma frequência.
Na biografia realça-se o seu precoce abandono dos estudos aos 18 anos, quando preferiu enveredar pela militância política na extrema-esquerda - no grupo Lotta Continua - e ganhou o sustento com os mais variados ofícios: operário, carpinteiro, camionista entre outros.
Quando se dissociou dessa via, dedicou-se a aprender sozinho o yiddish e o hebreu para ler as Escrituras na versão original.
Podemos presumir que, enquanto cultiva o jardim, vai dando asas à imaginação para produzir textos com surpreendente celeridade. O estilo é feito de frases curtas, porque defende a possibilidade de serem lidas em voz alta e de um só fôlego.
A perseguição judicial de que se vê alvo - por um procurador cujo pai foi morto por um atentado da extrema-esquerda nesses anos de brasa - pode ter a ver com a insistência com que defende as diferenças entre a ilegitimidade terrorista e a genuína luta armada, de que nunca deu mostras de arrependimento...
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