sexta-feira, janeiro 10, 2020

Inquietações: Novas da colapsologia


Logo em 1945  Albert Camus escreveu que Hiroshima mudaria para sempre a Humanidade. Doravante tinha a demonstração concreta de quanto era vulnerável, a possibilidade efetiva do seu desaparecimento. Ademais, se a Ciência sempre trouxera a evidência de melhorias concretas na qualidade de vida de quantos beneficiavam das suas inovações, significava igualmente a futura ferramenta pela qual se desencadearia o apocalipse.
Nos anos seguintes duas atitudes divergiram quanto à explicação desse previsível desenlace: uns viram-no como justa punição para a arrogância dos seres humanos, outros defenderam a esperançosa hipótese de um recomeço a partir do zero, sem todos os erros cometidos nos anteriores milénios da História, todos eles vinculados a guerras, opressões e muito sofrimento. Não deixa de ser, porém, significativo que os primeiros filmes de propaganda norte-americana sobre as medidas de proteção familiar a tomar em caso de deflagração atómica - estava-se então em plena Guerra Fria! - coincidiu com o início da comercialização de um produto farmacêutico capaz de garantir prodigiosos lucros a quem os criou e distribuiu: os ansiolíticos.
Hoje, no século XXI, já assimilámos plenamente a hipótese de morrermos como consequência de uma guerra global com muitos cogumelos a subirem à nossa vista nos céus circundantes. Como contraponto tornámo-nos mais egoístas, no mínimo individualistas. Lamentavelmente as ideologias igualitaristas passaram de moda. Pelo menos por enquanto!
Regularmente surgem-nos reflexões de uma nova «ciência», aparentemente aceite nalguns círculos universitários sem qualquer rebuço: a colapsologia. E temos sugestões para todos os gostos, desde as que não decorrem de qualquer intervenção humana, tal qual a do asteroide capaz de extinguir os dinossauros, até às que acenam com a possibilidade de se dar tal roda livre ao sistema bancário e à decorrente financeirização do nosso quotidiano, que o resultado será disruptivo caos. Se cenários formulam com algum nexo, o mais credível tem a ver com o que alerta para a necessidade urgente de rejeitarmos o fútil discurso do ininterrupto crescimento económico, porque a salvação da Humanidade no nosso planeta só depende de se reduzirem drasticamente os consumos de tudo quanto ele não consegue repor. O que significa, de facto, um inevitável decrescimento. O que não significa - de modo algum - um insuportável corte no usufruto diário das nossas básicas necessidades.

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