quinta-feira, janeiro 16, 2020

Galerias: As perceções sugeridas por Olafur Eliasson


Faltam ainda uns meses para acabar a exposição de Olafur Eliasson em Serralves, que não tem conhecido o merecido relevo mediático inerente a estarem disponíveis em solo luso as propostas de um dos mais estimulantes artistas contemporâneos. E se a sua notoriedade no resto da Europa é inquestionável, entre nós ele continua a ser um desconhecido. Mas como poderia não o ser se ainda temos bem presentes as intervenções idiotas de uns quantos matosinhenses agradados com a vandalização de uma peça escultórica de Pedro Cabrita Reis ou a caução a eles conferida pelo conhecido marcelista João Miguel Tavares nas páginas do «Público»?
Olafur Eliasson, o artista dinamarquês de origem islandesa, que fez de Berlim o quartel-general da sua atividade artística, ficou particularmente conhecido com o “Weather project” no grande átrio do Tate Modern em 2003, visto por mais de dois milhões de visitantes durante seis meses. Tratava-se de um sol artificial a 35 metros de altura amplificado pelos espelhos fixados no teto. Quem teve a sorte de passar por essa experiência sensorial confessa a noção de sublime, que lhe pareceu tão próxima a partir de um amarelo, que lhe saturava a retina. A aparência de Natureza criada a partir de néons predispunha à contemplação, sendo muitos os que ali se sentavam ou deitavam para se inebriarem com  um fascínio impossível de traduzir em palavras.
Essa instalação esclareceu o propósito de Eliasson, ainda hoje atual, de estimular a perceção no espectador, que vê o cérebro ativar-se num cadinho caótico de emoções semelhante ao efeito pretendido pelos românticos novecentistas.
Não se vislumbra um discurso ecologista nas palavras de Olafur Eliasson. Pelo contrário, ele sublinha que tudo é cultura, mais do que natureza. O recurso às ciências cognitivas orientou-o para um experiencialismo plástico, esteticamente impressivo e inteligente: o meu trabalho exige a implicação do público. O que me interesse é o desfasamento entre o que vemos e a expectativa do que temos.”  E é com essa pista, que as obras expostas em Serralves devem ser descobertas...

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