terça-feira, janeiro 28, 2020

Diário das Imagens em Movimento: Entre o absurdo de David Lynch e o de Terry Jones


Já está disponível na Netflix a mais recente experiência cinematográfica de David Lynch: «What Did Jack Do ? »
Quem se dispuser a vê-la com o olhar dos idiotas, que vandalizaram a escultura de Pedro Cabrita Reis em Matosinhos, depressa a dirá coisa esquisita, desmerecedora de com ela perder a vintena de minutos, que dura.
Quem, porém, arriscar a capacidade de olhar para a interpretação de Lynch e do macaco, divertindo-se com o conteúdo do interrogatório policial («alguma vez pertenceu ao Partido Comunista?» é uma das questões nele incluída!), acabará por concluir da pertinência da metáfora com certo pendor surrealista.
Recordamos então a longa tradição do filme negro norte-americano já que o interpelado é suspeito de ter cometido um crime passional, acabando por desmascarar-se no final, quando interpreta um ainda mais singular tema musical.
Lynch, que é um dos artistas pluridisciplinares mais interessantes da nossa contemporaneidade, teve os meios para construir um projeto à medida da sua torrencial imaginação.
Afinal esta estreia em streaming quase coincide com o desaparecimento de Terry Jones que foi um dos mais criativos membros dos Monty Python’s, com eles provando ser o absurdo a estratégia mais eficaz para combater o que o presente contém de inquietante. Ou não tivesse sido ele o realizador de «A Vida de Brian», cujo final jamais poderemos esquecer, sobretudo quando lembra sermos todos poeira e assim voltarmos a ser ao morrermos. Ou esse, igualmente, subversivo «O Sentido da Vida» em que se gozava com quem achava sagrada cada gota de esperma.

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