terça-feira, janeiro 28, 2020

Diário das Imagens em Movimento: Os diversos rostos da China atual


As terças-feiras à noite no canal franco-alemão ARTE são frequentemente dedicadas a temas da política internacional, apresentando-se sucessivos documentários, que dela possibilitem perspetivas aprofundadas e, amiúde, complementares entre si.
Será o que sucederá desta feita tendo a República Popular da China como fulcro, não propriamente devido ao candente coronavírus, mas pelas reações, que vai provocando no Ocidente, ora com a histeria de alguns, dispostos a acenarem com os riscos do «perigo amarelo», ora com outros, que olham para oriente com a expetativa de virem a fazer bons negócios.
«Le Monde selon Xi Jinping» será reexibido depois de ter-se estreado há dois anos, e com passagem igualmente pelos canais da RTP. Nele aborda-se a personalidade do atual líder chinês, que soube concentrar amplos poderes, como provavelmente não voltara a suceder desde Mao Zedong durante a Revolução Cultural, e está a fazer os possíveis para chegar ao centenário do regime - em 2049 - com os EUA definitivamente ultrapassados como a maior potência mundial.
«Chine, à la conquête de l’Ouest »  data de 2016, e mostra como cresce o entusiasmo interno com a tão propagandeada Nova Rota da Seda, que está a catapultar a expansão chinesa para os novos países da Ásia Central, outrora pertencentes à União Soviética. Nomeadamente no Cazaquistão já há quem se sinta intranquilo com o ascendente do ambicioso vizinho. E justifica-se a curiosidade de aferir como reagirá Putin a essa influência em geografias, que julgaria ainda integradas na sua coutada.
«Black China» desvenda uma realidade pouco conhecida: a da emigração africana para a região de Cantão onde se estabelecem os quartéis-generais dos negócios de importação de produtos chineses de baixo custo, que ganham significativo valor ao chegarem logisticamente aos mercados dos seus países de origem. A princípio tolerados com alguma complacência, esses empreendedores começam a suscitar crescente animosidade nos investidores locais, cientes de estarem a perder um tipo de negócio, que julgariam legitimamente seu.
A noite temática conclui-se com «Chine : Ouïghours, un peuple en danger», que reporta a tentativa de impor aos muçulmanos da China ocidental a língua e os valores inerentes ao regime, esmagando a frágil insurreição, tida como terrorista. A expetativa da atual liderança chinesa é a de diluir o mais possível as diferenças identitárias dos vários povos do antigo Império do Méio, ajustando-os aos que considera próprios da superpotência em que sobreviverão. 

Sem comentários: