quarta-feira, janeiro 08, 2020

Diário de Leituras: «A Vista de Castle Rock» de Alice Munro


Tardiamente chego à leitura da obra desta escritora canadiana, que se viu consagrada com o Nobel em 2013.  Porquê, só agora? Talvez o facto de não me ter impressionado o que dela se disse e escreveu na altura do prémio, dando-a como cultora preferencial do texto curto sem a ambição de chegar à dimensão do romance. Ora, na altura, a Academia ainda não se atrevera entregar a Bob Dylan a esdrúxula homenagem (ainda se tivesse sido ao Leonard Cohen!) e, na senda de Saramago, Garcia Marquez ou Gunter Grass, esperaria sopros épicos transitando por épocas diversas e catadupas de personagens. Por muito respeito que tenha pelos criadores de contos continuo a considerar ser bem mais difícil a construção de uma narrativa com páginas nos três dígitos do que as cingidas a dois ou mesmo um. Embora reconheça que Borges, Mia Couto ou Tchekov (com quem Munro é muitas vezes comparada!), me demonstrem amiúde o contrário.
A primeira surtida à obra da autora canadiana fez-me ficar nas meias águas, sem me render por inteiro, nem encontrar razões para a erradicar definitivamente da atenção. Dividido em duas partes, «A Vista de Castle Rock» dedica a primeira metade aos antepassados vindos da Escócia, quando as privações eram aí mais do que muitas e as esperanças depositadas num futuro do outro lado do oceano muito exageradas para quanto conteriam de realidade. Se a pobreza dos Laidlaw era imensa nas Highlands, não se aligeiraria significativamente na dura labuta encontrada no Ontario.
Na segunda metade Alice Munro coloca-se em cena e ficciona algumas das suas experiências, desde as que corresponderam à descoberta dos primeiros amores até à busca identitária das criptas dos antepassados, quando nela se anunciavam os sinais da doença oncológica com que tem vivido nos anos mais recentes.
A estratégia narrativa de interligar todos os textos através de um fio condutor, que lhes assegure uma certa continuidade resulta na aparência de um quase romance. Mas que, de facto, nunca o chega a ser.
Por ora transfiro para o segundo título da sua lavra, que já tenho na grelha de partida para o ler, um juízo mais sustentado sobre a maior ou menor agradabilidade que a obra dela me suscita...

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