quinta-feira, janeiro 30, 2020

Diário das Imagens em Movimento: «Ao Encontro da Guerra e do Amor» de Peter Hyams (1979)


Este filme representou para Harrison Ford a possibilidade de encabeçar um elenco cinematográfico pela primeira vez mas, não só recusou ver o resultado final ou sequer promove-lo, como confessaria ter sido uma rodagem que detestara viver. Mas, convenhamos que, tendo de as interromper para ir num saltinho a Los Angeles para se divorciar da primeira mulher, a vida pessoal não estava então a correr-lhe de feição.
Peter Hyams, o realizador, também estava num período complicado: os títulos que, anteriormente, assinara, tinham fracassado e estava quase sem cheta e com a família a cargo dela constando duas crianças de tenra idade.
Perante as vicissitudes por que passavam os principais envolvidos neste projeto, não se pode dizer que Hanover Street delas padeça: não é um daqueles filmes de ficar de queixo caído, mas como variante de Casablanca ou de Waterloo Bridge, não se sai particularmente mal.
Estamos perante um triângulo amoroso, centrado em Margaret, uma dona-de-casa, que faz serviço voluntário de enfermeira nos hospitais militares e divide os afetos entre Paul, o marido que não a encanta, mas nada faz para que o possa odiar, e David, o piloto norte-americano com quem se encontra às quintas-feiras para tórridos encontros clandestinos.
As coisas complicam-se quando esse amante, até então tido como um dos mais audazes do seu batalhão, começa a prezar em demasia o dever de resiliência, levando a que outros morram numa missão a que se furtara sob a alegação de ter ouvido um barulho estranho num dos motores do avião.
Como castigo atribuem-lhe a missão quase suicida de levar até França um agente dos serviços secretos aí incumbido de recolher da sede da Gestapo em Lyon a lista dos agentes ao serviço dos nazis em Londres.
É assim que marido e amante conjugam esforços como únicos sobreviventes do voo, que vitima o resto da tripulação de David. E convenhamos que Hyames tem alguma dificuldade em garantir a verosimilhança das cenas passadas em solo francês. Mas é no final, que ele revela-se mais moralista: entre os dois homens, a infiel Margaret acaba por ficar com o marido, restando ao amante a hipótese de a lembrar sempre que beber chá. O que, convenhamos, não parece ser bebida particularmente do seu agrado.
Na época os mais puristas assinalaram o facto de as cenas aéreas serem feitas com aparelhos diferentes dos utilizados na época nos céus ingleses, mas a produção só conseguira contratar outros, da mesma altura, vindos propositadamente dos EUA. E, enquanto espectadores, ficamos com questões por resolver porque, se de início pareceria relevante descobrir-se quem andava a passar informações secretas para os nazis, nada ficamos a saber dos documentos recolhidos pelos dois homens na sua surtida francesa. 
Mas, que importa, se o maior interesse do filme reside na sua condição de exemplo sobre a forma como se entendia fazer cinema de grande espetáculo nos finais dos anos 70?

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