sexta-feira, janeiro 10, 2020

Diário das Imagens em Movimento: «Que famílias!» de Jean-Paul Rappeneau (2015)


Desde que rodou o seu primeiro filme em 1965  - «la Vie de Château»  - Rappeneau tem sido um cineasta raro já que apenas lhe conhecemos oito longas-metragens nestas cinco décadas e meia. Para memória futura fica, sobretudo, a adaptação do «Cyrano« de Édmond Rostand, que, há trinta anos chegou a ser credível candidato ao Óscar (ganhou o do guarda-roupa), teve quase uma dúzia de Césares em 1991 e garantiu merecido prémio de melhor ator a Gérard Depardieu em Cannes.
À luz desse passado compreende-se que Mathieu Amalric, Nicole Garcia ou André Dussollier se associassem ao projeto que o já octogenário Rappeneau decidiu concretizar em 2015. Trata-se de uma comédia romântica em que um homem de negócios radicado na China volta a Paris, onde já não punha os pés há dez anos, e deita a perder um importante contrato e o aprazado casamento apenas para descobrir os segredos familiares na cidade natal de Ambray porfiar ndo em corrigi-los.
A intriga abunda em incoerências, mas os atores fazem o que podem para as assumir com a maior das naturalidades. Daí que valha a pena esquecer a história e usufruir o prazer do jogo de atores, sempre credíveis, mesmo nas cenas mais inverosímeis. Em causa está o muito explorado tema das virtudes públicas e vícios privados de uma burguesia sempre ciosa das aparências, mas incapaz de os esconder da coscuvilhice dos vizinhos. Se Chabrol ou Bunuel aproveitaram para, em circunstâncias semelhantes, fazerem um saboroso ajuste de contas não é isto que Rappeneau pretende, contentando-se com garantir finais felizes para os personagens com que nos fez empatizar até esse desenlace.
Sendo improvável que ainda venha a assinar mais algum título, Rappeneau despediu-se da realização de filmes com obra menor, visto com a descontração de quem lhe adivinha os limites e com eles se contenta.

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