domingo, janeiro 12, 2020

Diário das Imagens em Movimento: «O Primeiro Homem na Lua» de Damien Chazelle (2018)


Com quase dois anos de atraso em relação ao momento da sua estreia - preparado para sinalizar as comemorações de Julho de 2019 sobre a primeira viagem de astronautas norte-americanos à Lua - o filme de Damien Chazelle confirma o carácter mediano com que a crítica o qualificou na altura, mas confirma a perspetiva então assumida por Luís Miguel Oliveira ao constatar a diferença de tom entre a sua melancolia e o triunfalismo épico de «Os Eleitos» que, em 1983, igualmente abordava o programa espacial. Sinal de como a própria América mudou nos trinta e cinco anos, que mediaram entre os dois filmes. Mas «The First Man» vem dar, igualmente, resposta à questão sobre a estranha soturnidade do carácter de Neil Armstrong, sempre avesso a qualquer exposição mediática, sobretudo depois da obrigatória presença na celebração do seu feito. Damien Chazelle só teve de pedir a Ryan Gosling para que se mantivesse esfíngico de princípio até ao fim para construir essa “atormentada” personalidade.
A Claire Foy, que desempenhou o papel de Janet, os requisitos foram mais exigentes e momentos há em que a sua interpretação compensa plenamente o descalabro da presença no mais recente título da série Millenium.
O que melhor se retira do filme é a elucidação da suposta sofisticação tecnológica da NASA durante o programa Apollo. Se já sabíamos que os computadores, então utilizados para os complexos cálculos matemáticos necessários à definição de rotas e de consumos, tinham capacidades de memória muito aquém dos atuais telemóveis, só podíamos adivinhar quanto todas aquelas viagens para o espaço eram feitas sobre um fino arame, havendo grande influência da sorte para que só por duas vezes - uma tragicamente saldada em três mortes (Apollo 1) e outra remendada de forma ainda mais periclitante (Apollo 13)-, as coisas tenham tido desfecho negativo. As sequências de descolagem, passadas dentro da Gemini 8 ou da Apollo 11, testemunham essa sensação de desastre iminente só superada, quando chegavam ao patamar orbital. E fica na memória a cena final em que, Neil Armstrong de um lado do vidro no espaço onde está de quarentena, e Janet do outro, dão explicita evidência da incomunicabilidade, que caracterizaria uma relação sujeita às aparências por mais um quarto de século, mas a longo prazo condenada ao fracasso como se verificaria em 1994. 

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