sexta-feira, janeiro 31, 2020

Galerias: A infância que moldou Kazimir Malevich


Confesso que nunca dei a Malevich outra importância que não fosse a de reconhece-lo como um dos primeiros artistas abstracionistas do século XX e nome incontornável das vanguardas soviéticas logo após a Revolução de Outubro. O Suprematismo, de que era um dos principais expoentes, parecia anunciar a chegada de uma expressão estética sem os constrangimentos até então conhecidos.
Desconhecia-lhe, porém, a importância de ter crescido na aldeia ucraniana de Parjomovska onde, nos últimos anos do séc. XIX, os camponeses plantavam beterrabas para os operários transformarem em açúcar na fábrica local. Era nela que o pai do jovem Kazimir trabalhava, mas o rapaz só tinha olhos para as cores e as linhas geométricas dos campos em redor: “contemplava admirativamente os camponeses como se fossem manchas de cor a removerem as ervas daninhas nos campos”. E agradava-lhe, igualmente, colaborar com esses mesmos camponeses nas pinturas murais, que faziam nas paredes dos casebres, utilizando motivos florais ou galos por simbolicamente comportarem os melhores dos augúrios.
A Revolução de 1917 entusiasmou-o, mas depressa se desiludiu, quando o poder bolchevique cerceou a criatividade das suas vanguardas, que acusou de formalistas. Ademais as notícias da Grande Fome na Ucrânia demonstraram-lhe a pior faceta do estalinismo em ascensão. Foi por essa altura que se deixou influenciar pelos ícones das igrejas ortodoxas, nos quais identificou a mais genuína expressão artística do povo.
Estigmatizado pelo poder, Malevich passou várias vezes pela prisão até morrer em 1935, quando vivia na maior das pobrezas...

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