sexta-feira, maio 25, 2018

«O Segredo de Vesálio» de Jordi Llobregat


Barcelona, 1888, em vésperas da inauguração da Exposição Universal, que decorreu entre 20 de maio e 9 de dezembro, surgiu nas águas tranquilas do porto velho, junto ao cais do Lazareto, o corpo moribundo de um médico prestigiado, que morreu momentos depois de ser recolhido por quem o encontrou. Era o pai de um professor de Oxford, Daniel Amat, que emigrara sete anos antes, depois de más experiências que lhe davam vontade de nunca mais regressar, até por estar prestes a tornar-se catedrático e desposar a filha de um dos principais lentes da prestigiada instituição. Mas vê-se forçado a voltar quanto mais não seja para cuidar do funeral e da herança, embora logo à chegada se veja espoliado de toda a bagagem.
A situação complica-se quando um jornalista do «Correo de Barcelona» o quer convencer da morte suspeita do progenitor: pressionado pela direção do jornal a encontrar assunto apelativo, que justifique mantê-lo em funções, Bernat Fleixa vê nessa elucubração a notícia salvadora, que lhe salve o emprego. Junta-se-lhes também Paul Gilbert, um sisudo estudante de Medicina, que os ajuda a procurar respostas para os sucessivos crimes cometidos contra raparigas cujos corpos vão aparecendo mutilados.
Em intriga relacionada com um livro de Vesálio - o criador da anatomia humana, que sistematizara o recurso às autópsias no século XVI -, em que nada corresponde ao que se aparenta e ninguém está a salvo face a perigos sempre iminentes, o romance de Llobregat é um excelente divertimento literário.
Não é grande Literatura, porquanto nada de original se encontra na sua sintaxe, rigorosamente canónica! - mas é-a com l pequeno, muito acima das tretas mal amanhadas de Dan Brown ou do Orelhas da RTP. Estamos dispensados de nos transformarmos, como deverá ser a função de todo o bom romance, mas entretemo-nos sem dano. Por isso houve quem o equiparasse a Carlos Ruis Záfon, com justificada razão.

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