terça-feira, maio 01, 2018

(DL) «Ébano» de Ryszard Kapuściński fez-me recordar um facínora


A ditadura de Idi Amin Dada durou oito anos e causou centenas de milhares de mortos entre ugandeses de todas as etnias. Inculto e brutal, o antigo sargento do exército colonial britânico fora premiado por este com promoção a general na altura da independência, quando a passagem de poder implicaria igualmente a de quem asseguraria a defesa nacional.
Exemplo maior da falta de escrúpulos no exercício do poder, Amin derrubou Milton Obote, quando este saíra do país para uma reunião em Singapura, usando logo os métodos, que nunca deixaria de utilizar durante o seu longo desgoverno: ele e os apoiantes tomaram o quartel em Kampala, entrando a matar e sem aceitar qualquer rendição. Proveniente de uma pequeno tribo na fronteira sudanesa, os Kakwas, o futuro marechal logo cuidou de assassinar os oficiais das tribos maioritárias nos dias seguintes. Em poucos dias garantiu que o exército seria apenas composto de indefetíveis apoiantes. Que às vezes eram, eles próprios, assassinados, porque a paranoia do chefe levava-o a crer que eles poderiam vir a pensar demais e a imitá-lo na ganância pelo poder.
Imprudente, Amin decidiu meter-se um dia com a vizinha Tanzânia, cujo presidente, Julius Nyerere, era das figuras políticas mais respeitadas de África. Deu-se mal, claro. Perdendo um tanque, o exército atacado, decidiu dar o troco devido ao facínora, que teve de fugir, recolhendo-se primeiro junto de Kadhafi, e depois dos sauditas, que o incumbiram de passar a difundir a fé wahabita.
Injustamente morreria já septuagenário em Jeddah, sem nunca ser confrontado com qualquer castigo pelos seus crimes.

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