terça-feira, maio 22, 2018

(DIM) «Rendez-vous» de André Téchiné (1985)


Em 1985 o Prémio de Realização do Festival de Cannes foi para este filme de André Téchiné, que reivindicava a associação do realismo típico de um certo cinema francês com uma forma de romantismo. Mas ele ficaria para a História do Cinema como aquele que revelaria Juliette Binoche, aqui com 21 anos, e em certa medida Lambert Wilson, como atores a ter em conta doravante.
O realizador abordava aqui um dos seus temas preferidos: a difícil adaptação de alguém vindo da província para a grande cidade, que voltaria a explorar na década seguinte com «J’embrasse pas» ou «Alice et Martin». Tínhamos assim uma rapariga muito jovem, Nina, vinda do sudoeste francês para conquistar Paris, convencida de aí se tornar atriz.  Alojando-se em casa de Paulot e de Quentin, desprezará o amor terno que o primeiro lhe promete para se entregar ao segundo, tenebroso e ambíguo, com quem lhe adivinhamos rápido transe para o Inferno, seja lá o que isso for.
A iniciação por que Nina passará será pois tripartida: um pretendente apaixonado, que a respeita, um amante vampírico que a avilta e um mentor, bem mais velho, que será quem, à falta de a fazer realizar-se como mulher, a torna atriz. Como é também habitual no cinema de Téchiné, pode-se aqui detetar um triângulo amoroso, confirmando-se a sua apetência pelas geometrias dos sentimentos. A fórmula aqui cumprida é a da situação A ama B, que ama C, que não é capaz de amar ninguém, nem sequer ele mesmo, já que é dado a pulsões suicidárias. Para Quentin Nina é um mero objeto sexual, possibilitando ao espectador a análise psicanalítica da razão por que ela se dá a tal sujeição. Mas a morte dele num brutal acidente libertá-la-á, mesmo que não deixe de ser assombrada pelo seu fantasma. Compreende-se então a moral sugerida pelo realizador: quem perde, ganha, cada sofrimento, rotura ou luto significa uma vitória num outro ângulo da realidade, o da expressão artística. Mesmo que saia a perder quem apenas pretenderia viver.
Num filme amargo e incómodo, com planos muito em cima dos atores para sugerir a claustrofobia em que vivem num ambiente urbano e frio, todos os personagens são antipáticos ou, no mínimo indiferentes. E se alguns se escandalizaram com a excessiva nudez de Binoche, há que reconhecer a nula sensualidade dessa exposição, porque o corpo surge como  um mero agente neutro numa narrativa isenta de sentimentos que o possam valorizar.

Sem comentários: