domingo, maio 20, 2018

(DIM) «O jazz: uma arma secreta» de Hugo Berkeley (2017)


No romance do Afonso Cruz, que comecei agora a ler («Nem Todas as Baleias Voam») este caso é relatado logo nas primeiras páginas: embora tenha sido secundarizado na História da Guerra Fria, o jazz foi utilizado pelos Estados Unidos como arma de arremesso contra o inimigo soviético, contratando os principais talentos de tal género de música para veicularem os valores americanos no outro lado da Cortina de Ferro.

A ideia surgiu em 1956 e pretendia conquistar quem vivia sob a tutela de Moscovo para as mensagens sub-repticiamente inoculadas pelos seus «Jazz Ambassadors: Louis Armstrong, Duke Ellington , Dizzy Gillespie ou Dave Brubeck, que viram as suas digressões generosamente financiadas para que, com as suas orquestras constituídas por brancos e negros, procurassem desmentir um dos principais argumentos soviéticos, o da segregação racial. Ora, muito embora todo o sul dos Estados Unidos estivesse a ferro e fogo com o Ku Klux Klan em força a perseguir e matar os que contestavam a segregação racial, os músicos convidados pelos ideólogos de Eisenhower prestaram-se ao frete de aparentarem provir de um país muito diferente do real, dando-se a tal papel sem quererem entender o quanto estavam a ser utilizados como meros peões de um jogo de ambições bem mais latas.
O documentário de Hugo Berkeley aborda precisamente essa questão: porque aceitaram tais artistas, também eles vítimas dessa discriminação no seu país, acederam a dar tão falsa imagem? Só quando, já na segunda metade dos anos sessenta o Movimento dos Direitos Cívicos ganhou incontornável dimensão é que eles se lhe juntaram redimindo-se tardiamente de tão comprometedora cumplicidade.



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