quinta-feira, maio 03, 2018

(DIM) «Adeus Filipinas» de Jacques Rozier (1962)


Uma das muitas e excelentes iniciativas da equipa, que organiza anualmente o Festival Indie é o de nos trazer um melhor conhecimento sobre cineastas pouco conhecidos ou desvalorizados, mas que são autores de obras apreciáveis e concretizadas com a máxima independência, que tinham ao seu alcance.
Um dos heróis indie deste ano é Jacques Rozier, realizador que iniciou a carreira nos anos 40 e a prolongou até 2012, sendo hoje, aos 92 anos, um dos últimos sobreviventes da geração da nouvelle vague. Dele têm passado diversos filmes dos quais, porventura, o mais interessante é «Adieu Philippine» de 1962, encomenda de um produtor decidido a financiar obras destinadas  à juventude.
Rozier, que fora assistente de realização nos programas televisivos, quando quase sempre eram em direto, traz para o filme influências determinantes aí recolhidas: a sensação de urgência com que tudo é feito, a publicidade, a presença cada vez mais insistente da sociedade de consumo e o recurso a várias câmaras para rodar a mesma cena. Esta opção implicava gastar muito mais película do que a necessária para um filme de menos de duas horas, o que suscitou sérios engulhos a quem lhe produzia o filme e lhe ia controlando os gastos.
A atenção de Rozier à juventude, ao conflito de gerações com os progenitores e ao seu desejo contínuo de acesso à felicidade, persistirá noutros títulos posteriores, sempre com a preocupação de inserir algo de sério numa intriga aparentemente ligeira. À partida acompanham-se as vicissitudes juvenis entre Paris e a Córsega, antes de o rapaz do triângulo amoroso ser convocado para atravessar o Mediterrâneo e dar o couro na guerra da Argélia. Apesar do risco de ver tais cenas esbulhadas da versão final pela censura, esse assunto vem, amiúde, a talhe de foice, se não como denúncia, pelo menos enquanto criador de estados de alma ensimesmados nos personagens.
Ficando para a História do Cinema como um dos mais fidedignos testemunhos da realidade francesa dos anos sessenta - mormente dessa instituição entretanto caída em desuso, que era a refeição em família ao domingo -, «Adeus Filipinas» é, igualmente, interessante de analisar ao nível da montagem com uma primeira parte frenética, quando ainda concentra a ação em Paris, para depois ganhar progressiva lentidão na segunda parte, quando é na Córsega, que o trio vive os dias em falta para que Michel apanhe o barco e vá ao encontro dos campos de batalha.

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