quinta-feira, maio 17, 2018

(DIM) «As Boas Condições» de Julie Gavras (2017)


Durante quinze anos a realizadora acompanhou oito adolescentes, que viviam em bairros privilegiados e frequentavam o muito chique liceu Victor-Duruy, sendo-lhes expetável a integração nas elites futuras com todos os estereótipos inerentes. Filhos de joalheiros, de publicitários ou de diretores financeiros, nasceram em berços de ouro, mas, em contraponto, condicionados pela obrigatoriedade de virem a imitar os progenitores no sucesso social e profissional.
O que mais interessa a Julie Gavras é o quanto lhes é moldado o pensamento pela ambiência em que vivem, mormente no que lhes é transmitido enquanto testemunho a perpetuar. Apanhando-os com 16 anos, a realizadora foi entrevistando-os ano a ano até se tornarem trintanários. Capta assim a dinâmica da reprodução das élites.
Beneficiando de condições excecionais para concretizar o projeto e contando com a colaboração ativa dos seus entrevistados, que lhe vão confidenciando as paixões, as viagens, os espaços em que vão habitando ou os sítios onde trabalham, Julie Gavras encaixa cada fragmento no puzzle ilustrativo de uma classe social raramente revelada cinematograficamente na efetiva dimensão. Daí que o filme seja interessante documento histórico sobre uma época de mudança, que testa os recém-chegados ao mundo do trabalho quanto a revelarem-se ou não fiéis à sua «boa condição».

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