sábado, maio 19, 2018

(DL) Uma obra ilustrativa dos tempos que vivemos


Esta semana ficou marcada literariamente pela morte do escritor Tom Wolfe em Nova Iorque. Tinha 88 anos e notabilizara-se como jornalista ao criar uma nova tendência informativa focalizada na descrição dos factos sem arriscar juízos morais ou ideológicos: o «new journalism». Depois começara a escrever romances dos quais o mais conhecido foi «A Fogueira das Vaidades», que Brian de Palma passou ao cinema, por ilustrar a cupidez e a ambição desmedida das élites financeiras nos tempos de Ronald Reagan na Casa Branca. Mas, pessoalmente, agradeço-lhe um outro título anterior, «The Right Stuff», que fundamentou um dos meus mais bem-amados filmes dos anos oitenta.
Entre 1979 e 2013 Wolfe só publicou cinco grandes romances , complementados por um torrencial fluxo de artigos de imprensa e de ensaios bastante elucidativos quanto ao seu pensamento conservador. Embora a abordagem tão ciosa da forma precisa como procurava ilustrar a verdade da época em que situava as histórias, fizessem dos seus livros  óbvias referências sobre cada uma delas. Por exemplo em «Eu, Charlotte Simmons» oferecia uma análise sobre as universidades norte-americanas numa época em que o politicamente correto ganhava contornos quase inquisitoriais e se afirmava a libertação dos costumes. Daí que, numa entrevista, dada aquando de uma das suas viagens a França para apresentar as suas obras, ele se dissesse filiado nas influências de dois escritores franceses, explicando-o assim: “Sempre me considerei muito objetivo, mesmo quando esse modo de estar não era uma moda. O que aprecio em Balzac ou em Zola é o seu amor pela verdade, mesmo sobrepondo-se aos seus posicionamentos políticos. Balzac era monárquico, mas o que escreveu contribuiu para o advento da Revolução de 1948, que derrubou essa forma de regime. (...) Gosto de ver escritores com ego bastante para se dissociarem de partidos políticos, preferindo descrever o que efetivamente veem.”
Não sendo propriamente um entusiasta da obra, nem tampouco do seu estilo, reconheço o interesse na leitura da obra de Wolfe como forma de melhor interpretar o período histórico de que ele ambicionou ser um dos principais cronistas.

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